Promovendo a Paz e a Igualdade de Género: Primeiro Acampamento solidário do DELPAZ

 

Foto: Mulheres das Provincias de Sofala, Tete e Manica, cantando “ Mexeu com uma, mexeu com todas”

De 20 a 21 de novembro de 2023, realizou-se o primeiro acampamento solidário do DELPAZ na Província de Manica, mais precisamente em Inhazónia, no Distrito de Bárue. A ideia dos acampamentos solidários surgiu em 2014, durante o recomeço das hostilidades entre a FRELIMO e a RENAMO[1]. Esta concepção teve origem no Grupo de Mulheres de Partilha de Ideias de Sofala (GMPIS), emergindo como uma iniciativa para dar voz às mulheres afectadas pelo conflito no centro de Moçambique. Conforme explicado pela organizadora do acampamento, Inês Chamuchifinha, “a ideia do acampamento solidário surgiu para ser um espaço onde a mulher se sinta segura para expressar e compartilhar o que está dentro de si”. Desde então, dezenas de acampamentos solidários foram organizados em todo o país.

O acampamento em Inhazónia, reuniu 250 participantes, mulheres e homens das províncias de Tete, Manica e Sofala. Seguindo os princípios dos outros acampamentos, baseados na solidariedade, inclusão e diversidade, toda a comida do acampamento foi preparada com base em princípios solidários por mulheres da comunidade, utilizando produtos locais. O evento contou com a participação de diversas pessoas, tais como líderes religiosos, membros do governo local, régulos e agricultores, todos unidos com o objetivo de alcançar a igualdade de género.

Domingas Sebastião, membro do GMPIS, destaca que as províncias de Manica, Tete e Sofala foram as mais afectadas pela guerra. Um dos principais objetivos do acampamento é proporcionar a troca de experiências, para que  “as mulheres quando saiam daqui possam transportar a paz para dentro da família, comunidade  e até para a Província”.

Nesse sentido, dentro do acampamento, destaca-se a discussão sobre a Resolução 1325 das Nações Unidas, que reconhece o significativo papel das mulheres na construção e manutenção da paz, promovendo a sua participação ativa e igualitária em processos decisórios.

Além dessa perspectiva, os participantes são organizados em grupos nos quais exploram outros três temas centrais: Conflitos Armados, Mudanças Climáticas e Direitos Humanos. Ines Chamuchifinha esclarece que, no espaço dedicado aos Direitos Humanos, as mulheres abordam temas relacionados à violência baseada no género, incluindo casamentos forçados e precoces[2], com o objetivo de que “as mulheres aprendam a dizer não e afirmem que, como mulheres, têm os seus direitos”.

No acampamento, observamos a participação de homens. Ines Chamuchifinha esclarece que, alinhado com o movimento lançado pela ONU Mulheres, ElesporElas, que busca envolver os homens na promoção da igualdade de género, é crucial ter homens no acampamento, pois assim “conhecem os direitos das mulheres e compreendem as suas dificuldades no dia a dia”. De facto, durante o evento, um grupo de homens dedicava-se à discussão sobre a masculinidade tóxica e a masculinidade positiva.

Amélia Andalusa, que veio do Distrito de Macossa, mais concretamente de Dunda, expressa seu entusiasmo ao compartilhar que esta é a segunda vez que participa num acampamento. Para ela, estes eventos representam momentos de confraternização, onde “conversamos com muitas mulheres, mães e seus filhos, tudo num clima de harmonia e paz”. Assim, para promover a participação de todas, o acampamento utiliza métodos feministas comunitários incluindo diálogos em línguas locais para promover a empatia e fortalecer a autoestima.

Amélia destaca que, agora que não vive num ambiente de guerra, pode “trabalhar na machamba, alimentar as crianças e levá-las para a escola”. No entanto, alerta para a necessidade de criar oportunidades econômicas para as mulheres, pois muitas empresas na sua província costumam “contratar apenas homens”. Expressa a esperança de que a declaração elaborada ao final do acampamento – que servirá como instrumento de advocacia – inclua a necessidade crucial de promover a contratação de mulheres. Estando assim em sintonia com o lema do acampamento: “Mulheres empoderadas pela paz, inclusão social e económico local”.

* O DELPAZ, financiado pela União Europeia em Moçambique, é um programa do governo moçambicano que atua em 14 distritos das províncias de Manica, Tete e Sofala para a consolidação da paz. Na Província de Manica, a Agência Italiana de Cooperação para o Desenvolvimento (AICS) apoia o desenvolvimento econômico, colaborando com as autoridades locais e um consórcio de organizações da sociedade civil italianas e locais, liderado pela Helpcode

[1] Em 21 de outubro de 2013, a RENAMO anunciou o fim do Acordo Geral de Paz de Roma, depois que forças governamentais atacaram a base da RENAMO na Gorongosa no centro do país. O conflito armado durou até o dia 5 de agosto de 2014, quando ambas as partes chegaram a um acordo de cessação das hostilidades

[2] Segundo dados da UNICEF, Moçambique tem uma das taxas mais elevadas de casamento prematuro do mundo, afectando quase uma em cada duas raparigas, e tem a segunda maior taxa na sub-região da África Oriental e Austral. Cerca de 48 por cento das mulheres em Moçambique com idades entre os 20 e os 24 anos já foram casadas ou estiveram numa união antes dos 18 anos e 14 por cento antes dos 15 anos (IDS, 2011).

Fotos: Participante do grupo que debate a resolução 1325 das Nações-Unidas e homens abordando a construção da paz

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