Nádia Muchanga: Uma jovem bióloga marinha promovendo a sustentabilidade em Inhaca.

 

Este ano, celebramos o Dia Internacional das Mulheres e Raparigas na Ciência sob o lema “Liderança Feminina na Ciência: Uma Nova Era para a Sustentabilidade”, com o subtema “Pense na Ciência… Pense na Paz”, reconhecendo o papel das mulheres e raparigas na ciência, não apenas como agentes de mudança, mas também como promotoras da paz.

Nesse sentido, queremos contar a história de vida de Nádia Muchanga, jovem bióloga marinha a trabalhar na Inhaca e que recentemente participou na Summer School, um programa de intercâmbio universitário de 5 semanas em Itália e Moçambique,  financiado pela Agência Italiana de Cooperação para o Desenvolvimento (AICS),  que contou com a participação de estudantes moçambicanos e italianos, com foco no estudo e preservação dos manguais.

A conservação dos ecossistemas marinhos é essencial para a preservação da vida humana e marinha. Nádia Muchanga, licenciada em Biologia Marinha e atualmente estudante de biologia e ecologia de conservação, tem trabalhado com comunidades costeiras na ilha de Inhaca[1], em Moçambique, para promover a gestão sustentável de pescarias e enfrentar desafios como a escassez de recursos.

Uma das medidas de conservação aplicadas por Nádia e sua equipe é a implementação de vedas, que consiste no fechamento da pesca[2] durante um período determinado, principalmente durante o pico de reprodução das espécies. No entanto, essas restrições podem resultar em conflitos, gerando a necessidade de encontrar fontes alternativas de subsistência[3] para as comunidades locais.

Para garantir o entendimento, a paz social e a colaboração das comunidades, Nádia destaca a importância do conhecimento cientifico, nomeadamente a educação ambiental. Por meio de grupos focais e difusão de informações cientificas sobre a necessidade das vedas e do defeso e a importância da preservação dos ecossistemas, as crianças das escolas secundárias tornaram-se não só agentes de conscientização e propagaram o conhecimento para seus pais, mas também agentes de conservação da biodiversidade e de promoção da paz em Inhaca.

A conscientização sobre a preservação dos recursos naturais não se limita apenas às comunidades locais. Durante a participação na Summer School na Universidade de Roma “La Sapienza”, na Itália, organizado através do programa Mangrowth*, no final do ano passado, Nádia percebeu as diferenças entre a análise científica dos estudantes italianos e dos estudantes moçambicanos. Enquanto em Moçambique a teoria era bem desenvolvida, a prática nos laboratórios era limitada: “fiquei impressionada com a quantidade e variedade de laboratórios onde os meus colegas italianos podem praticar a teoria, por isso saúdo com muita alegria a iniciativa da Cooperação Italiana com a Universidade “Eduardo Mondlane” em nos proporcionar acesso a laboratórios de qualidade, como o laboratório na Ilha de Inhaca, com previsão de inauguração ainda este ano”.

Essa troca de conhecimentos, experiências e intercâmbio cultural possibilitou a construção de uma rede de colaboração entre os estudantes, que continuam trabalhando juntos mesmo após o fim da Summer School. Um exemplo dessa parceria é um estudo que estão desenvolvendo em conjunto sobre o tipo de peixe que existe no mangal e que será apresentado na Conferência sobre a Biodiversidade Marinha, marcada para junho de 2024 em Nacala.

O aprendizado adquirido durante a Summer School também contribuiu para a elaboração de propostas de preservação ambiental. Nádia e sua equipe elaboraram um decreto de carbono para quantificar a quantidade de carbono que pode ser sequestrada em Inhaca. Essa proposta tem como objetivo apresentar o ecossistema do mangal[4] e gerar benefícios para as comunidades locais. A educação ambiental desempenha um papel fundamental nesse processo, conscientizando a comunidade sobre a importância dos ecossistemas e incentivando a preservação desses recursos naturais.

Estabelecer a paz é fundamental para promover a conservação e a preservação dos ecossistemas. É somente em ambientes de paz que a proteção ambiental pode ser efetiva e ter valor. Portanto, a educação ambiental é de extrema importância para garantir a preservação dos ecossistemas para as gerações futuras.

Nádia reconhece o papel crucial da Agência Italiana na educação ambiental, permitindo que diferentes culturas se unam em prol da conservação. O programa desenvolvido pela agência promove a troca de conhecimentos e gera benefícios científicos que são benéficos para a população em geral.  Em 2024, a AICS continuará a apoiar a realização de uma nova Summer School, garantindo assim que as futuras gerações tenham acesso contínuo à educação ambiental.

A jovem bióloga agradeceu ainda o apoio da Cooperação Italiana às mulheres e raparigas na ciência, salientando que “fornece recursos e oportunidades que ajudam a promover a igualdade de género e o avanço das mulheres nas carreiras científicas em Moçambique”.

Nádia Muchanga é um exemplo do papel importante que as jovens raparigas moçambicanas podem desempenhar na promoção da ciência para a conservação dos ecossistemas.  “Espero que a minha história inspire outras jovens raparigas moçambicanas a seguirem carreiras científicas, contribuindo assim para o progresso científico e tecnológico do país”.  No dia Internacional das Mulheres e Raparigas na Ciência, Nádia salientou ainda que “As mulheres trazem perspetivas únicas que podem conduzir a novas descobertas e soluções inovadoras para os desafios enfrentados pelo país”.

 

* A AICS, em colaboração com a Universidade de Roma “La Sapienza”, a UEM e o MIMAIP, implementa “Mangrowth Preservation of Ecosystems for Sustainable Development”, com foco na Ilha de Inhaca e na Baía de Maputo (AID. 12432). Trata-se de um programa de 3 milhões de euros, aprovado em outubro de 2021, que compreende três componentes: apoio institucional e a coordenação; desenvolver a capacidade científica da Estação de Biologia Marinha da Inhaca (EBMI) e melhorar a sua capacidade técnica e científica para implementar estratégias eficazes de conservação da biodiversidade e restauração ecológica, com enfoque nos habitats de mangais; e reflorestação e gestão dos mangais da Baía de Maputo e o desenvolvimento de actividades geradoras de rendimentos.

 

[1] A báia de Inhaca é muito rico em biodiversidade terrestre e marinha. A grande diversidade de organismos e a fragilidade dos ecossistemas do arquipélago foram os dois factores cruciais que determinaram o estabelecimento das Reservas Florestais e Marinhas nas duas ilhas (Ilha de Inhaca e Ilha dos Portugueses) em 1965.

[2] Nas águas de Inhaca, encontram-se diversos peixes, incluindo garoupa, peixe-serra, peixe-papagaio e agulha. No entanto, a pesca intensiva pode levar ao desaparecimento dessas espécies, colocando em risco tanto a biodiversidade da ilha quanto a sustentabilidade da atividade pesqueira.

[3] Uma alternativa é o desenvolvimento da apicultura nos mangais. Em Inhaca, estão a estudar a possibilidade de produzir mel a partir do magal.

[4]Os  mangais desempenham um papel crucial na preservação do ecossistema, absorvendo dióxido de carbono da atmosfera, o que é essencial para combater as mudanças climáticas e proteger a rica biodiversidade costeira