Mulheres reiteram com grito “não à guerra” em acampamento solidário em Guro

Mais de 250 mulheres das províncias de Tete, Manica e Sofala reiteraram com um grito uníssono, “não à guerra”, na abertura a 15 de abril do segundo acampamento solidário promovido pelo Programa DELPAZ até 16 de Abril no distrito de Guro, na província de Manica, realçando que a paz e segurança estão a cooperar para sua consolidação económica.

O acampamento solidário de dois dias que decorre sob o lema “Mulheres de mãos dadas, construindo paz através do desenvolvimento económico inclusivo”, reúne no mesmo espaço mulheres de diferentes origens, trajetórias e histórias, para compartilhar saberes, fortalecer os laços de afeição e construir coletivamente ideias para a sua autonomia económica.

Num ambiente onde o protagonismo feminino floresce, elas admitem que os desafios enfrentados pelas mulheres no campo, na cidade e nas periferias podem serem agravados por conflitos, enquanto já assinalaram avanços gigantescos no seu empoderamento.

“Continuamos a encorajar a mulher na busca pela paz e segurança, porque é num espaço seguro onde ela consegue tomar decisões”, referiu Anchia Mulima, coordenadora da Levanta Mulher e Siga o Seu Caminho (LEMUSICA), que integra a Rede Feminina Centro.

Acrescentou que “a nossa expectativa neste acampamento é que as mulheres continuem a crescer economicamente. Daí o nosso grito [não à guerra]. A estabilidade económica vai reduzir a tripla violência de que as mulheres são vitimas: doméstica, física e económica”.

Para ela a violência, desigualdade, machismo, falta de acesso a terra, a moradia e aos direitos básicos devem ser parte da declaração deste ano, para que os decisores tenham em consideração as lutas das mulheres.

Outra participante, Inês Chifinha, coordenadora do grupo de mulher de partilha de ideia de Sofala (GMPIS), anota que “como o DELPAZ está no fim e estamos também a finalizar os acampamentos, queremos que as mulheres continuem a implementar os conhecimentos obtidos, nas várias áreas, para sua sustentabilidade económica”.

“Queremos que a mulher tenha autonomia económica, para não depender do governo e nem de projetos [que vem e vão], e use o conhecimento valioso na agricultura promovido pelo DELPAZ para sua riqueza”, enfatizou.

Enquanto embala o seu filho no colo, Elsa Francisco, olha o acampamento como um lugar de esperança, e aguarda sair dali diferente em conhecimento, com os calorosos debates nas rodas de conversa, cantos e partilhas.

Durante a tarde da terça-feira as mulheres debateram efusivamente temas como: conflitos armados, construção da paz inclusiva, economia da mulher e empoderamento económico, mudanças climáticas, género e agenda 1325, além da violência baseada no género.

Além dos debates, as mulheres visitaram a feira das mulheres, onde estão expostos produtos produzidos por elas com o conhecimento adquirido no âmbito do DELPAZ.

Para assegurar a inclusão de todas e todos o acampamento utiliza métodos feministas de base comunitária que se centram na utilização de uma abordagem transformadora, de diálogos nas línguas locais a fim de criar empatia e aumentar a autoestima e espaços seguros como a lareira das mulheres que se realiza na noite de 15 de Abril.

 Cada mulher chega ao acampamento, traz sua força, sua dor, sua luta, e sai mais forte, mais consciente e mais conectadas com as outras, que também sonham e lutam para um Moçambique melhor.

Este é o segundo acampamento solidário, onde as vozes e histórias das mulheres, como atores locais do DELPAZ, em Manica, Sofala e Tete, estão a ser partilhadas e escutadas, e que depois será elaborada uma declaração que garanta que as necessidades das mulheres sejam devidamente consideradas.

O primeiro foi realizado em Novembro de 2023, em Inhazónia, distrito de Barué, ainda na província de Manica.

O DELPAZ, um programa do Governo de Moçambique, financiado pela União Europeia, abrange os temas da Governação Local e do Desenvolvimento Economico Local para a consolidação da paz. Em estrita coordenação com os governos locais, e’ implementado pela Agência Italiana de Cooperação para o Desenvolvimento (AICS), com a colaboração de dois consórcios de organizações da sociedade civil liderados pela ONG Helpcode na Província de Manica, e pela ONG Save The Children na Província de Tete; enquanto em Sofala o programa é implementado pela Agência Austríaca de Desenvolvimento (ADA). Nas tres Províncias, o Fundo das Nações Unidas para o Desenvolvimento de Capital  (UNCDF) é responsável pela componente de governação local inclusiva.

A AICS financia também uma outra iniciativa chamada “Manica para as Mulheres”, coordenada pelo Progettomondo em parceria com CAM (Consórcio de Associações de Moçambicana), a Helpcode,  Fundação Micaia GMPIS, AITR (Associação Italiana de Turismo Responsável) e Legacoop Emilia-Romagna. “Manica para as Mulheres” visa promover a paz e o desenvolvimento sustentável e inclusivo na província de Manica através da participação das mulheres na economia rural, com foco nos sectores agrícola, comercial e de turismo rural nos distritos de Báruè, Macossa, Tambara e Guro.

Smartphone e galinhas

O senhor Artur Mainato Randim já não quer ouvir falar de guerra. O tempo ajudou a esquecer os dias terríveis e agora só quer pensar na sua machamba e olhar para o futuro. É um dos DDR, as pessoas que entraram no programa de desarmamento, desmobilização e reintegração, resultado do acordo de paz de Maputo assinado em 2019.

O senhor Artur vive na comunidade de Missoche, no distrito de Dôa, na província de Tete.

Antigamente produzia milho, amendoim, feijão manteiga e nehmba, bananeiras e cana-deaçucar. Mas o seu sonho era cultivar tomate e repolho.

Com a chegada do DELPAZ –  o programa do Governo de Moçambique financiado pela União Europeia –  no distrito de Dôa, o seu sonho materializou-se.

Através da Fundação SEPPA – membro do consórcio que trabalha com a Agência Italiana de Cooperação no desenvolvimento (AICS) – recebeu sementes de repolho, tomate e feijão. Além disso, recebeu formação para produzir essas hortícolas, na sua machamba de 9800 metros quadrados.

A colheita foi generosa e com a venda das hortícolas o senhor Artur conseguiu comprar também um smartphone e cinco galinhas.

Agora mão à obra. Ele tenciona aumentar a área de produção para dois hectares e cultivar repolho, couve, cenoura e cebola, na segunda época do ano a decorrer.

“Espero mesmo que o DELPAZ perdure aqui porque muitos benefícios trouxe à nossa comunidade”, diz convicto o senhor Artur cujo sonho agora é se tornar um agricoltur modelo e até ser de exemplo para toda a comunidade.

Água: Instrumento de Paz

Comemora-se hoje o Dia Mundial da Água, uma data crucial que nos recorda a importância desse recurso vital para a sobrevivência humana e o equilíbrio dos ecossistemas. Este ano, o tema “Água para a Paz” destaca a capacidade da água de promover a paz e a cooperação entre comunidades e países.

Em Moçambique, a palavra “água” começa com “m”. Mati, massi, mazhi, matchi, mave, madzi, maze, madi, madji – todas essas variações ressoam com a raiz “m” e estão intimamente ligadas à fertilidade, à vida e à feminilidade. A água, assim como a mulher grávida, adapta-se às circunstâncias, supera obstáculos e dá à luz vida. É uma metáfora poderosa que reflete a natureza transformadora e vital da água.

No entanto, quando a água é escassa ou poluída, quando as pessoas têm acesso desigual ou nenhum acesso, as tensões podem surgir entre comunidades e países. As mudanças climáticas estão a exacerbar esses desafios, tornando ainda mais urgente a união em torno da protecção e conservação desse recurso precioso.

Em resposta a crises como a epidemia de cólera em Moçambique, trabalhando com as instituições moçambicanas, organizações internacionais, como o Central Emergency Response Fund (CERF), têm desempenhado um papel crucial, fornecendo financiamento para garantir acesso à água potável e serviços de saneamento básico para centenas de milhares de pessoas. A água contaminada representa o principal meio de transmissão da cólera, sendo assim garantir o acesso à água potável, é uma forma eficaz de travar a epidemia. A cooperação internacional, incluindo o investimento da Agência Italiana de Cooperação para o Desenvolvimento (AICS) no CERF, demonstra o poder da solidariedade e da cooperação global.

Além disso, iniciativas como o workshop sobre monitoramento e qualidade da água que teve lugar de 28 a 29 de Novembro 2023, organizado pelo centro de biotecnologia da Universidade “Eduardo Mondlane” (UEM) com o apoio da AICS, destacam o compromisso contínuo com a gestão sustentável dos recursos hídricos: foram ressaltados os desafios enfrentados por Moçambique, especialmente após eventos climáticos extremos como os ciclones, e a importância da cooperação internacional e do intercâmbio de conhecimentos para enfrentar esses desafios.

Em Cabo Delgado, a AICS junto com as Nações Unidas – nomeadamente com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e o Programa Alimentar Mundial (PAM) – têm apoiado as instituições moçambicanas a fornecer acesso à água potável e serviços básicos essenciais para crianças e famílias deslocadas em campos de acolhimento devido aos ataques violentos que continuam a ocorrer na região. Por exemplo nas localidades de Palma Sede, Quitunda e Mute, foram construídos 15 furos, e reabilitados outros 15. Foram realizadas 57 sessões de sensibilização, centradas na promoção de práticas de higiene positivas, incluindo a importância de lavar as mãos com água, como meio de prevenção de doenças. Estas sessões de sensibilização atingiram mais de 22.000 pessoas. Essas intervenções não apenas garantem o acesso à água limpa, mas também promovem a educação em higiene e saúde nas pessoas deslocadas pelo conflito em Cabo Delgado, demonstrando como a água está intrinsecamente ligada ao bem-estar humano, e ao desenvolvimento sustentável.

A AICS está activamente envolvida na construção de sistemas hídricos e na perfuração de poços nas áreas mais afectadas pela guerra civil através do DELPAZ. O DELPAZ, o programa do governo moçambicano e financiado pela União Europeia, com o suporte do Fundo Das Nações Unidas para o Desenvolvimento de Capital (UNCDF), é implementado nas Províncias de Manica e Tete pela AICS, enquanto a Agência Austríaca para o Desenvolvimento (ADA) actua na Província de Sofala. Esses esforços não apenas melhoram o acesso à água potável, mas também desempenham um papel crucial na restauração da confiança e da estabilidade nas comunidades devastadas pelo conflito. O Programa DELPAZ é um exemplo tangível de como a cooperação internacional pode transformar positivamente a vida das pessoas, promovendo a paz e a reconstrução pós-conflito através do acesso a recursos fundamentais como a água.

À medida que nos aproximamos do 10º Fórum Mundial da Água em Bali, Indonésia (18 a 25 de maio), é fundamental mantermos o intercâmbio de melhores práticas e colaboração global para abordar os desafios relacionados à água. A presença da Sede Regional da AICS em Maputo no fórum ressalta o compromisso contínuo da comunidade internacional em promover a gestão sustentável da água e alcançar objectivos de desenvolvimento comuns.

Reflexões e aspirações: as vozes dos beneficiários do DELPAZ nas províncias de Tete, Sofala e Manica

Enquanto o cenário político em Maputo discute fervorosamente a possibilidade de um Plano Nacional de Reinserção, estimulando um diálogo aprofundado entre as autoridades e a sociedade civil, um caminho para uma mudança tangível já está a ser percorrido nas províncias de Manica, Tete e Sofala. Estes passos, dados com determinação, já produziram resultados que merecem ser apoiados e podem constituir um ponto de partida sólido. No entanto, a solução não reside apenas em políticas e planos de ação, mas sobretudo na experiência directa e nas vozes autênticas dos protagonistas desta transformação.

Nos dias 21 e 22 de março, realizou-se em Maputo a Conferência Internacional sobre Reintegração Pós-Conflito, promovida pelo Instituto para a Democracia Multipartidária (IMD), sob o alto patrocínio do Ministério da Justiça, do Ministério dos Combatentes e do Secretariado para a Paz (PPS). Entre os participantes, oriundos das províncias de Tete, Sofala e Manica, destacaram-se as vozes vibrantes de Florinda, Rita, Mário, Graça, Anita, Isabel, Carménia e Carlota.

Para muitos deles, era a primeira vez que se deslocavam a Maputo e traziam consigo uma mensagem cheia de esperança e urgência: “Queremos paz”, declararam enfaticamente. “Queremos trabalhar a terra, somos camponeses. Queremos cultivar a nossa própria comida, mandar os nossos filhos para a escola. Queremos viver em paz e, para isso, precisamos da vossa ajuda”. As suas palavras ressoam com uma urgência palpável, uma vez que reflectem necessidades essenciais: acesso à água, infra-estruturas, estradas, mercados, hospitais e escolas.

As experiências relatadas durante a conferência foram comoventes e esclarecedoras. Anita, com os olhos ainda incrédulos, comentou a visão da abundância de água nos hotéis de Maputo, contrastando com a realidade da sua comunidade, onde a água é um bem precioso que só pode ser alcançado após longas viagens. Mário, impressionado com a grandiosidade e vibração da capital, agradeceu ao DELPAZ por ter levado o furo de água à sua comunidade e novas práticas agrícolas, juntamente com sementes e ferramentas, expressando a importância de alargar este tipo de projectos a todas as comunidades carenciadas.

Florinda partilhou um sentimento de gratidão e reconhecimento: “Nós não éramos nada, mas agora estamos aqui a falar e vocês estão a ouvir-nos. O DELPAZ tornou-nos visíveis”. Estes testemunhos são um reflexo tangível do trabalho realizado pela DELPAZ, também evidenciado pela distribuição da Declaração de Inhanzónia, um símbolo de solidariedade e inclusão promovido através da organização do acampamento solidário em novembro do ano passado no distrito de Báruè.

O papel das mulheres como actores e líderes locais foi particularmente enfatizado, tendo Carlota Inhamussua, colaboradora ativa do Programa DELPAZ na Província de Sofala, partilhado experiências significativas como o projecto da poupança e da caixa dos sonhos. Estas actividades visam não só disponibilizar recursos tangíveis, mas também estimular os sonhos e objectivos das comunidades envolvidas, reforçando a confiança e o sentimento de pertença das pessoas às suas comunidades.

O caminho para a paz e a prosperidade exige um compromisso colectivo e sustentado. Quando estas comunidades começam a dar os primeiros passos em direção à mudança, é crucial que não sejam deixadas sozinhas. Precisam de tempo, apoio e recursos para crescerem e continuarem a cultivar a paz nos seus territórios. Só através de um compromisso partilhado e de uma solidariedade duradoura é que se pode garantir um futuro de esperança e prosperidade para todas as comunidades moçambicanas.

Todos eles têm clamado para não serem deixados sozinhos, agora que estão a começar a ‘gatinhar’ e precisam de mais tempo e apoio para poderem ‘crescer’ e continuar a cultivar a paz nas suas comunidades.

Para isso contribui também o DELPAZ, em parceria com o IMD, implementado pelo AICS em Manica e Tete, e pela ADA em Sofala, com o apoio do UNCFD. Para além de água, infra-estruturas, vias de acesso, sementes e novas práticas agrícolas, estimula os sonhos das comunidades mais afectadas pela violência armada, onde os beneficiários do DDR voltaram a viver, juntamente com as suas famílias.

Como repetidamente expresso pelo Embaixador da UE em Moçambique, Antonino Maggiore, “Como parceiros de Moçambique, estamos plenamente conscientes dos desafios que enfrentamos em matéria de reintegração e reconciliação; […] A paz e a reconciliação só podem ser alcançadas através de uma democracia próspera e da prosperidade em benefício de todos os cidadãos moçambicanos.”

 

 

Dona Crisse, um telemóvel e um cabrito

Crisse Agostinho Guezane é uma mulher de 28 anos da comunidade de Missoche, no distrito de Moatize.

Ela carrega consigo não apenas o peso da maternidade de quatro filhos, mas também o desejo ardente de transformar sua realidade. A sua é uma história exemplar, um testemunho de resiliência e determinação.

Antes da intervenção do Programa DELPAZ na sua comunidade, dona Crisse limitava-se a cultivar apenas milho. O conhecimento sobre a produção de hortícolas era escasso, mas a sua vontade de aprender e progredir era inabalável.

Graças à iniciativa da Fundação SEPPA, um dos parceiros do Programa DELPAZ, dona Crisse recebeu as ferramentas e insumos necessários para expandir suas actividades agrícolas. Sementes de repolho, tomate e feijão foram fornecidas, abrindo portas para um novo capítulo na sua vida. Com a orientação e apoio do pessoal da fundação, Crisse aprendeu os segredos da produção dessas culturas.

Numa área modesta de 70×70 metros quadrados, dona Crisse começou a sua jornada como agricultora de hortícolas. Através da venda da sua produção, ela alcançou pequenas conquistas que reflectiram grandes mudanças na sua vida, e naquela dos filhos. Com o dinheiro adquirido, comprou um telefone celular e uma cabra, símbolos tangíveis do seu progresso e determinação.

Determinada a ir além, dona Crisse tem planos ambiciosos para o futuro. Ela agora quer expandir a sua área de produção para 100×100 metros quadrados, para cultivar uma variedade ainda maior de culturas, incluindo repolho, tomate, couve, cebola, milho e feijão. Além disso, aspira a ser um modelo para outros agricultores na sua comunidade, inspirando-os a perseguir os seus próprios sonhos e objectivos. E ela é que diz: “só a paz nos permite de estar bem, só a paz nos permite de garantir a comida, só é a paz que nos faz ricos!”

 

Domingas, Brígida e Cláudia, três mulheres que fazem a diferença

Domingas Joaquim Sabão, Brígida João Masitanisse e Cláudia Manuel foram as três protagonistas do Seminário de Promoção da Liderança Feminina na Prevenção de Conflitos em Gondola, no dia 12 de abril.

Elas são beneficiárias do programa DELPAZ na Província de Manica, e vieram respectivamente dos Distritos de Gôndola, Báruè e Guro, para participar no Seminário, juntas com Directoras de Serviços Provinciais e Distritais, Secretarias Permanentes, Administradoras, funcionárias publicas, empreendedoras, académicas.

O Seminário, organizado pelo Serviço Provincial da Economia e Finança da Província de Manica em parceria com UNCDF, teve lugar no dia 12 de Abril em Gondola, com o objectivo de refletir sobre a importância da liderança feminina na prevenção e resolução de conflitos, e na construção da paz, a partir das experiencias pessoais das participantes.

As protagonistas do DELPAZ também trouxeram seu testemunho, com intervenções tocantes e articuladas que, a partir da experiência do Acampamento solidário de Inhazonia, mostraram como os processos de empoderamento promovidos pelo programa podem contribuir para diminuir as discriminações baseadas no género.

“Havia violação dos direitos dos menores, em particular as raparigas quando terminavam a sétima classe não tinham como ir à escola secundária porque os pais não permitiam que estas crianças continuassem a estudar – também porque a escola ficava longe, e era considerado perigoso. E assim estas meninas depois entravam em casamentos prematuros. Mas a aprendizagem do acampamento permitiu trazer uma mudança de mentalidade na nossa comunidade, e já as meninas deixaram de casar, passaram a ir à escola secundária – contou a Brígida. Ela frisou ainda o seu papel como activistas na comunidade e que “conversamos com os pais dizendo que as meninas têm direito de continuar com a escola secundária e também têm direito, se quiserem, de ir à universidade”.

A Cláudia, por seu lado, abordou o assunto da dependência económica, que pode ser mitigada por iniciativas que promovem o empoderamento económico das mulheres: “Nós mulheres, na minha comunidade, antes ficávamos em casa a lavar e cozinhar; o dinheiro em casa era escondido: não tínhamos acesso, tínhamos de pedir a toda a hora. Os homens são muito expertos, escondem dinheiro. Mas agora eu também consigo ter meu rendimento, compro o que acho devo comprar, dou o meu apoio económico, e consigo mostrar ao meu marido que eu também, como mulher, consigo contribuir para a renda familiar”.

Elas despertaram muita curiosidade e interesse no meio das participantes que quiseram saber como é que elas conseguiram produzir esta mudança de comportamento e de pensamento nos homens. A resposta da Domingas foi bem clara: “Não foi fácil. Quando falei com meu marido que eu precisava de documentação, ele respondeu ‘por acaso você é homem que vai ir à tropa? Este dinheiro é para fazer o quê?’”.  Para ela, o factor decisivo foi, justamente, o programa DELPAZ: “Eu queria entrar no projecto como membro da minha associação, mas os projectos são rigorosos e é importante ter documentação para não correr o risco de ficar fora. Portanto voltei a falar com meu marido: ‘estou a perder a possibilidade de entrar no projecto porque não tenho documentos, porque sem documentos não sou ninguém’. E ele finalmente percebeu que, de facto, era importante eu ter todos os documentos”.

O seminário foi também uma ocasião para partilhar, com todas as participantes, uma cópia da Declaração do Acampamento de Inhazónia, a fim de continuar a espalhar as vozes das mulheres e dos homens protagonistas do DELPAZ, e para reflectir sobre una dinâmica prometedora que está sendo observada nas comunidades onde se implementa o programa – ou seja, que os homens estão expressando de forma explícita o seu interesse em ser formados sobre assuntos de igualdade de género e empoderamento. Assim, o próximo passo vai ser uma primeira formação sobre este tema a ser dada nas Rádios comunitárias com as quais o DELPAZ colabora: assim, fiquem atentos as próximas actualizações!

 

Cerimónia de lançamento da primeira pedra para a construção da Escola Primária de Cabango, no distrito de Moatize

No dia 19 de Abril de 2024, a comunidade de Nkhondzi, localizada no Posto Administrativo de Zobbue, distrito de Moatize, participou do lançamento da construção de infraestruturas na sua localidade: a Escola Primária de Cabango.

A cerimónia, liderada pelo Administrador do distrito de Moatize, Eugenio Pedro Muchanga, marcou o início de um projeto ambicioso que visa melhorar as condições educacionais para os 625 alunos matriculados na escola.

A cerimónia teve início com práticas tradicionais que reflectem a cultura e a satisfação da população local. O Administrador, acompanhado pelos membros do consórcio implementador, pelos líderes locais, e pelos estudantes, dirigiu-se ao local da obra, onde foi feito o lançamento simbólico da primeira pedra. O empreiteiro responsável, Suli Construções, comprometeu-se a concluir a construção das duas salas de aula, um bloco administrativo e três latrinas duplas dentro de dois meses, garantindo a qualidade dos trabalhos.

Lindas apresentações culturais, incluindo uma peça teatral e danças tradicionais, enriqueceram o evento. Discursos foram proferidos pelo Administrador, pelo representante de Save the Children em Tete, João Simbine, pelo representante da WeWorld, Vincenzo Bevivino, bem como pelos directores de SDEJT e SDPI, o Chefe do posto e da localidade.

João Simbine explicou brevemente o propósito do programa, destacando a sua importância para a consolidação da paz e o desenvolvimento local. Financiado pela União Europeia, implementado na Província de Tete pela Agência Italiana de Cooperação para o Desenvolvimento (AICS) através de um consórcio de ONGs liderado pela Save The Children, o programa DELPAZ é parte do acordo de paz entre o governo e a Renamo, assinado em 2019. Na Província de Tete, DELPAZ está a ser implementado em três distritos – Moatize, Doa e Tsangano – por quatro parceiros, nomeadamente: WeWorld-GVC, SEPPA (Agro-negócios & Consultoria), KUBECERA e Associação Amanhecer para Protecção de Terra e Recursos Naturais) e CEPCB (Centro de Estudos de Paz, Conflito e Bem-Estar),  com o objectivo de beneficiar comunidades locais e promover o desenvolvimento sustentável.

O lançamento da construção na Escola Primária de Cabango representa um marco importante para a comunidade de Nkhondzi e para o distrito de Moatize como um todo. Essa iniciativa demonstra o compromisso das autoridades locais e dos parceiros internacionais com a melhoria da educação e o desenvolvimento da região. Espera-se que essa infraestrutura recém-inaugurada proporcione um ambiente de aprendizado mais adequado e contribua para o crescimento e o bem-estar dos alunos e da comunidade em geral.

 

A reportagem de Rádio Moçambique: https://jmp.sh/mMbiwq1L

 

Cerimonia di posa della prima pietra della scuola elementare di Cabango nel distretto di Moatize

Il 19 aprile 2024, la comunità di Nkhondzi, situata nel posto amministrativo di Zobbue, nel distretto di Moatize, ha partecipato all’avvio della costruzione di un’infrastruttura nella propria località: la scuola primaria di Cabango.

La cerimonia, guidata dall’amministratore del distretto di Moatize, Eugenio Pedro Muchanga, ha segnato l’inizio di un ambizioso progetto volto a migliorare le condizioni educative dei 625 alunni iscritti alla scuola.

L’evento è iniziato con cerimonie  tradizionali che riflettono la cultura e la soddisfazione della popolazione locale. L’Amministratore, accompagnato dai membri del consorzio, dalle autorità tradizionali locali, e dagli studenti, si è recato al cantiere, dove ha avuto luogo la posa simbolica della prima pietra. L’appaltatore incaricato, Suli Construções, si è impegnato a completare la costruzione delle due aule, del blocco amministrativo e delle tre latrine doppie entro due mesi, garantendo la qualità del lavoro.

Bellissimi spettacoli culturali, tra cui una rappresentazione teatrale e danze tradizionali, hanno arricchito l’evento. I discorsi sono stati tenuti dall’Amministratore, dal responsabile del programma DELPAZ Tete, João Simbine, dal rappresentante di WeWorld, Vincenzo Bevivino, nonché dai direttori di SDEJT e SDPI, e dagli amministratori della località.

João Simbine ha spiegato brevemente lo scopo del programma DELPAZ, sottolineandone l’importanza per la costruzione della pace e lo sviluppo locale. Finanziato dall’Unione Europea e attuato nella provincia di Tete dall’Agenzia Italiana per la Cooperazione allo Sviluppo (AICS) attraverso un consorzio di ONG guidato da Save The Children, il programma DELPAZ fa parte dell’accordo di pace tra il governo e la Renamo, firmato nel 2019. Nella provincia di Tete, DELPAZ viene attuato in tre distretti – Moatize, Doa e Tsangano – da quattro partner: WeWorld-GVC, SEPPA (Agribusiness & Consultancy), KUBECERA e Associação Amanhecer para Protecção de Terra e Recursos Naturais) e CEPCB (Centro per gli studi sulla pace, i conflitti e il benessere), con l’obiettivo di beneficiare le comunità locali e promuovere lo sviluppo sostenibile.

L’avvio della costruzione della scuola primaria di Cabango rappresenta un’importante pietra miliare per la comunità di Nkhondzi e per l’intero distretto di Moatize. Questa iniziativa dimostra l’impegno delle autorità locali e dei partner internazionali per migliorare l’istruzione e lo sviluppo della regione. Si spera che questa nuova infrastruttura fornisca un ambiente di apprendimento più adeguato e contribuisca alla crescita e al benessere degli studenti e della comunità in generale.

Il servizio di Rádio Moçambique: https://jmp.sh/mMbiwq1L

 

Lurdes, a ex-guerrilheira que alimentava uma companhia, hoje produz para educar os filhos

Lurdes António, 68 anos, não teve acesso a educação formal na infância, como a maioria das mulheres daquela época nas zonas rurais de Moçambique. Foi recrutada para a base (de Minga), da guerrilha da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) em 1982, aos 26 anos. Teve treino militar em Mandie, no distrito de Guro, na província de Manica.

No auge da guerra civil, passou por cinco bases militares da guerrilha, e produzia comida nos campos agrícolas de civis e dos militares e cozinhava para a companhia, onde conheceu depois o seu marido, também ex-guerrilheiro.

“Minha tarefa era carregar bagagens dos militares e cozinhar para eles nas suas missões. Se nos dissessem vamos a um lugar, apenas carregávamos bagagens e seguíamos, e terminado o programa – quer seja de reconhecimento ou ataque – regressávamos. Daí mandavam-nos para nossas casas e seriamos chamados quando houvesse um novo programa”, conta.

A seca e a fome severa atingiram Moçambique no final dos anos 80, e um “sofrimento terrível” abalou a sua companhia, quando decidiu com o marido abandonar a guerra e seguir viagem para se instalar em Nhamadjiua, no posto administrativo de Nhampassa, no distrito de Barué, província de Manica, onde foram depois desmobilizados com o fim da guerra em 1992.

“Em 2012 voltamos a responder ‘o chamado da revolução’, convocado pelo líder histórico Afonso Dhlakama”, que já vinha a denunciar falhas graves na implementação do Acordo Geral de Paz (AGP) de Roma.

Lurdes António voltou a ser desmobilizada junto com o marido em 2021, no âmbito do processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) dos ex-guerrilheiros da Renamo em Barué.

Desde então passou a se dedicar a agricultura e aprendeu novas técnicas agrícolas introduzidas com o Programa DELPAZ, que está a assegurar a reintegração económica e social de todos os ex-combatentes, suas famílias e comunidades rurais atingidas pelo conflito para alcançar uma paz duradoura em Moçambique.

“O DELPAZ veio e está a nos ensinar. Fazíamos cultivos de forma rudimentar, com sementes tradicionais e tínhamos muitas perdas, mas agora estamos a usar técnicas agrícolas melhoradas, usamos linhas para as covas na sementeira, e já temos rendimentos para educar os nossos filhos”, explica avivada com as novas conquistas.

 

Fazer as coisas acontecerem

“Espero que regressem a casa diferentes da forma como chegaram, que se sintam mudados: para que possam transformar as vossas vidas e as vidas das comunidades em que vivem. Façam as coisas acontecerem!” Foi com estas palavras que Hermenegildo Rodrigues Arnaldo, director do Instituto Agrário de Chimoio (IAC), encerrou no dia 13 de abril a cerimónia de entrega dos certificados de conclusão do primeiro curso de formação em ‘Produção agrícola, produção animal e técnicas de transformação’ a 72 jovens do Distrito de Barué, na Província de Manica.

O curso de formação profissional de curta duração, com a duração de duas semanas, contou com a participação de 18 mulheres jovens e 54 homens jovens, 20 dos quais provenientes de famílias beneficiárias do processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR), em aulas teóricas e práticas sobre temas como a agricultura de conservação, técnicas de irrigação, controlo de pragas, criação de animais e produção de alimentos para animais, e a transformação e conservação de produtos agrícolas.

Nas próximas semanas, mais 328 jovens dos Distritos de Gondola, Guro, Macossa e Tambara vão participar em mais quatro ciclos de formação sobre os mesmos temas – uma das actividades chave do projeto DELPAZ na Província de Manica, que prossegue agora com estágios nas associações de produtores com quem o DELPAZ trabalha sob a supervisão dos técnicos agrónomos dos Serviços Distritais das Actividades Económicas formados em 2023.

Realizado pela Progettoomondo, um dos parceiros do consórcio que implementa o projecto, o curso decorreu no IAC, um dos parceiros institucionais do DELPAZ e também um dos principais institutos de formação profissional do país, que acolhe estudantes de todas as províncias e os forma em áreas como Agronomia, Medicina Veterinária, Engenharia Florestal e Conservação da Fauna Bravia, desempenhando um papel crucial na integração social e capacitação dos jovens.

O dia foi animado e alegre, entre momentos oficiais e trocas mais informais, que permitiram conversar com os alunos e alunas, que mostram – como se pode ler nas linhas seguintes – que regressam a casa com ideias e perspectivas muito diferentes, mas todos com grande motivação, e com novas amizades.

 

“Saio daqui com a ideia clara de que quero ir para a suinicultura: é a parte do curso que mais me apaixonou e tem um grande potencial” (Jordao Jairosse, de 31 anos, da comunidade de Honde)

“Já sou agricultor, mas aprendi coisas que não sabia, como a transformação de produtos agrícolas, que é algo que quero começar a fazer, nomeadamente com a produção de óleo de sésamo” (Armindo Inoque Jose, de 31 anos, de Nhassacara)

“Apercebi-me que quero continuar a formação e a estudar, gostaria que o curso tivesse durado mais tempo, mas depois apercebi-me do que me interessa” (Micheque Albertino Januario, de 21 anos, da comunidade de Chuala)

“Queremos trabalhar em grupo, organizarmo-nos. Vamos precisar de apoio, de alguns fundos para os primeiros investimentos, mas temos de começar” (Niquilone Fevereiro, 22 anos, de Chuala)

“Eu tenho o meu próprio campo. Cultivo milho, madumbe (taro), tseke (amaranto), mapira (sorgo). Onde é que eu gostaria de estar daqui a um ano? Gostava que os meus produtos fossem vendidos em Chimoio, aqui mesmo na cidade, a toda a gente”.  (Rosa Zeferino Manejo, 30 anos de Nhassacara)