Dia Mundial dos Oceanos: Juntos na Rota do Crescimento Azul

Hoje é o Dia Mundial dos Oceanos. O slogan deste ano é Revitalização: uma acção colectiva pelo oceano, um apelo para que todos tomem medidas para reparar os danos que a humanidade continua a infligir à vida marinha e aos meios de subsistência que o oceano proporciona.

Em Moçambique, o Ministério do Mar, Águas Interiores e Pescas, organizou o seminário ‘Juntos na Rota do Crescimento Azul’ no belo Museo do Mar, desenhado pelo arquitecto José Forjaz, em Maputo.

O seminário contou com a presença de Paolo Enrico Sertoli, Director do escritório da AICS em Maputo, que está envolvio em programas de cooperação caracterizados por um forte interesse na gestão sustentável dos recursos marinhos e costeiros e dos mangais em particular, com, por exemplo, os programas “RINO: recursos, inovação e desenvolvimento para áreas de conservação”, “Mangrowth”, e “SECOSUD”.

Os oradores sublinharam a necessidade de aumentar constantemente a consciência pessoal e colectiva sobre a importância dos oceanos, as ameaças que enfrentam, o papel crucial que todos desempenham na sua utilização sustentável, e o apelo à acção para mudar atitudes no sentido de alcançar os objectivos da ODS14 através da investigação, conhecimento e acesso/gestão da informação como uma das ferramentas-chave para a elaboração de políticas eficazes e outros instrumentos de gestão sectorial.

Houve grande interesse em apresentações sobre uma série de iniciativas e instituições que trabalham na economia azul, tais como a Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável em particular promovida pela UNESCO, um documento que sublinha a importância da ciência para a conservação dos oceanos com o objectivo de promover a gestão sustentável dos recursos marinhos, promover a saúde humana, libertar o potencial de carbono azul e combater a pesca ilegal; Biofund (wwww. biofund.org.mz), a Fundação para a Conservação da Biodiversidade criada como um instrumento financeiro privado cujo objectivo é financiar a conservação da biodiversidade em Moçambique; Fundo ProAZul (www.proazul.gov. mz), um mecanismo de finanças públicas que trabalha em parceria com diferentes sectores do Estado, o sector privado e a sociedade civil para alinhar recursos estratégicos e financeiros com iniciativas eficazes para a utilização sustentável das águas interiores, do mar e do litoral, cujas principais áreas de intervenção são a gestão sustentável do litoral e dos mangais, a pesca e a aquicultura, a investigação sectorial, as infra-estruturas portuárias, o turismo e o desporto; Iniciativa Grande Muralha Azul da IUCN (https://www. iucn.org/news/secretariat/202111/global-launch-great-blue-wall), cujo objectivo é criar uma rede de áreas de conservação marinha para acelerar o progresso em direcção ao objectivo de proteger 30 por cento dos oceanos até 2030.

Em termos de documentos governamentais, foi apresentado, entre outros, o Plano de Ordenamento do Espaço Marítimo, que abrange todo o espaço marítimo de Moçambique e visa promover o ordenamento do espaço marítimo, respeitando os princípios da gestão integrada e do desenvolvimento sustentável; a Estratégia de Desenvolvimento da Economia Azul – derivada da estratégia similar a nível continental – importante para Moçambique para fomentar a concorrência no acesso aos recursos marinhos, aumentar as oportunidades de emprego, promover o investimento privado, a inclusão social e a educação ambiental; e a Estratégia e Plano de Acção Nacional para a Conservação da Biodiversidade em Moçambique, que visa, entre outras coisas, promover o bom estado ambiental do meio marinho, bem como a prevenção de riscos e a minimização dos efeitos resultantes de desastres naturais e alterações climáticas ou da acção humana.

Depois dos ciclones, a AICS distribui sementes e enxadas para recomeçar a agricultura

Gombe e Ana são os dois ciclones que atingiram violentamente Moçambique  em Março deste ano. Para além de causarem morte e devastação, comprometeram a produção agrícola de regiões inteiras. Ventos fortes e chuvas torrenciais forçaram as populações locais a afastarem-se das suas casas para lugares mais seguros. Além disso, a produção agrícola das populações rurais tem sido seriamente afectada, comprometendo a segurança alimentar de todo o país.

A Agência Italiana de Cooperação para o Desenvolvimento (AICS), para além do programa de emergência já activo no país, respondeu ao apelo lançado pelas autoridades governamentais e pelos camponeses moçambicanos e distribuiu sementes e instrumentos agrícolas para evitar a crise alimentar.

O escritório da AICS em Maputo foi a Mutarara, na província de Tete, onde, juntamente com as autoridades locais, distribuiu 420 kits com sementes, uma catana e duas enxadas, para que os camponeses locais possam produzir quantidades suficientes apesar do atraso na sementeira.

Sinjal oyee! Fome ziiii! Os agradecimentos corais das mulheres e dos homens que receberam sementes de milho, feijão, abóbora, quiabo, couve, tomate, cebola, para se levantarem novamente após as suas perdas.

Pontos verdes (CDR) – Engajando pequenos Produtores como o Paulo Lequissio a aumentar sua renda por meio de Agricultura inteligente e estimulando a consciência na Inclusão

Paulo Lequissio, 60 anos, é residente na Comunidade de Mwanalirenji, posto Administrativo de Zobué, distrito de Moatize é casado com Sitifonia Mapios, mãe de 6 filhos. O senhor Paulo é beneficiário do Programa DELPAZ desde 2023.

“A primeira vez que ouvi falar do DELPAZ foi quando fomos convocados pelo nosso líder a participar de uma seleção de baixo das nossas mangueiras onde estavam alguns homens que nos falaram da agricultura de conservação e sobre Paz e reconciliação”, conta o senhor Paulo. “Fiquei muito interessado porque eles falavam de uma comunidade inclusiva e logo aceitei participar para aprender coisas que para mim eram novas”.

“Fomos informados que é possível produzir e obter bons rendimentos sem gastar muito dinheiro comprado medicamentos, adubos e sem gastar nosso milho para dar as mães de sachas como pagamento pelo trabalho”, continua o senhor Paulo, acrescentando que achou os argumentos tão convincentes que assim decidiu adoptar a título experimental as práticas de agricultura de conservação, poupanças e participar nos debates sobre a ’Paz, Reconciliação e inclusão’ “com nossos irmãos na comunidade vulgos DDR”. Foi assim que preparou uma área pequena de 1350m2 (30m x 45m) para produzir tomate e 800m2 (20mx40m) para produzir Feijão Vulgar.

O Sr. Paulo foi um dos beneficiários desta iniciativa. Recebeu catana, enxada, regado, semente de tomate e feijão vulgar com assistência técnica completa para implementação de agricultura de conservação.

Ainda em conversa, o senhor Paulo contou-nos que o rendimento que obteve na primeira experiência da prática de agricultura de conservação – usando a cobertura morta (mulching) e o biopesticida conhecido localmente por Manguala de folhas amargas (pesticidas biológicas) e o uso de Manhoa (esterco animal) nas suas parcelas, foi tão satisfatório que decidiu aumentar a área de cultivo usando as mesmas técnicas de Agricultura de conservação pelo menos para meio hectare. “Faz tempo que venho produzido tomate e feijão, porém na pequena área que preparei 1350m2 (0,135 hectare), usando 10g de tomate na variedade Rio Grande e a 1kg de feijão vulgar na variedade Catarina, distribuídos no âmbito de DELPAZ consegui 35 cestos de 30kg de tomate e 4 latas de feijão”.

No momento da colheita e venda de tomate e feijão o preço do mercado já estava muito baixo, contudo conseguiu ter um lucro de 7000 MT com a venda dos 30 cestos e duas latas de feijão. Com o lucro obtido a partir da venda desta produção foi possível comprar 30 galinhas, material escolar para os filhos, roupas, alimentação para casa e alugar carrinha de mão para puxar o esterco bovino para a machamba.

Segundo ele, antes do seu engajamento com DELPAZ não usava a agricultura de conservação porque nunca imaginou que fosse possível produzir sem que haja custos com pesticidas, adubos inorgânicos e também por desconhecimento das suas vantagens. No lugar da semente melhorada ele usava o grão selecionado da campanha anterior para a cultura de feijão, e usava uma taxa de sementeira muito alta o que infelizmente dava rendimentos muito baixo. Mas com os treinamentos sistemáticos promovido pelo DELPAZ nas comunidades sobre as práticas da agricultura inteligente produção sustentável, uso de compactos e densidade adequada, associado aos bons rendimentos obtidos, foi entendendo a necessidade do uso de factores de produção locais, como o uso das plantas locais para produção de pesticidas, esterco animal local para adubação e uso de mulching.

Na comunidade, ele considera-se um testemunho vivo do impacto da intervenção do DELPAZ: “Hoje, por experiência própria, sou testemunha do que a prática da agricultura de conservação usando Mulching, taxa de sementeira ideal, adubação orgânica e pesticidas orgânicas podem fazer em termos de sustentabilidade e rentabilidade’’.

O senhor Paulo, satisfeito com os resultados obtidos anteriormente, pretende aumentar a sua área de produção para um hectare (1 ha) em agricultura de conservação para produção de hortícolas e reza para que a chuva se faça sentir para ter bons resultados tendo em conta que ele não tem uma motobomba. Com o aumento dos seus rendimentos ele pretende iniciar uma poupança com a parte dos lucros de modo a conseguir concretizar futuramente o sonho de comprar uma camioneta para escoar os seus produtos pessoalmente sem ter de perder muita produção por falta de meio de transporte para escoar a sua produção.

O senhor Paulo está deveras satisfeito e deseja que o DELPAZ continuará apoiando a sua comunidade e agradece especialmente os técnicos que dia a dia estão com eles, no terreno.

 

Bartolomeu, o ex-guerrilheiro que vive da agricultura no “deserto”

Bartolomeu Tenesse, 58 anos, lutou por 13 anos na guerrilha da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), numa frente que tinha a missão de sustentar a guerra civil, com armamento que devia assaltar em quartéis. Foi desmobilizado duas vezes, a última em Junho de 2021 e está pela segunda vez na chamada vida civil.

O ex-guerrilheiro está a lutar agora para sustentar a sua comunidade, com a agricultura que pratica no povoado de Casado, em Tambara, um distrito de clima seco de estepe, com inverno seco e baixa precipitação anual.

O distrito de Tambara, na província de Manica, no centro de Moçambique, está a ser atingido por uma fome severa, provocada por uma seca induzida pelo fenómeno El Niño, que tem devastado colheitas. Tambara separa-se, através do rio Zambeze, com o distrito de Mgabu, no Malawi, que foi declarado estado de calamidade devido ao fenômeno.

“A fome este ano é assustadora, há famílias a se alimentar de farelo de milho, frutas e tubérculos silvestres. Outros passam dias a fio sem comer. Então se eu intensificar essa agricultura, com boa disponibilidade de água, posso enfrentar qualquer tipo de fome”, afirma Bartolomeu Tenesse, com a mão no queixo e o braço sustentado no cabo da enxada.

Bartolomeu, foi recrutado para a guerrilha aos 15 anos, em 1985, em Angónia (Tete), quando fazia uma viagem para Blantyre, em busca de emprego no Malawi, durante a guerra civil que durou 16 anos.

“O nosso carro foi interpelado, foram separados os jovens e levados para um lugar, onde pernoitamos. Ao amanhecer, ficamos surpresos ao ver que estávamos sendo controlados por homens com armas em punho. Avisaram-nos que devíamos cumprir a tarefa de trazer democracia no país”, quando foi levado para treino militar na base de Chiriza, em Angónia.

Ficou naquela base até 1987, fazendo operações na província de Tete, quando foi solicitado na base central Merece-Chamboco, na serra da Gorongosa, onde conheceu e dialogou com o líder histórico, Afonso Dhlakama.

“Saudamos o presidente (Afonso) Dhlakama, como soldados de Tete. Daí fomos divididos em grupos pequenos, e passei para Inhaminga, em Sofala. Depois engajamos em Dondo, Nhamatanda, Shemba até regressar a uma das bases na província de Tete”.

Acrescentou: “a nossa tarefa era combater e recolher o material bélico para as nossas bases, numa dessas missões de entregas de armas, fui levado novamente até ao local onde estava o presidente Afonso Dhlakama”. Foi depois reconhecido por essas missões e poucos anos depois foi alcançado o Acordo Geral de Paz (AGP), de Roma, em 1992.

Mesmo “em paz, ficávamos a sofrer, sem liberdade e nem democracia”, o que o levou a regressar às matas em 2017, a partir da base de Nhandete (Tambara), de onde choraram “amargamente” a morte de Afonso Dhlakama, em Maio de 2018, até ser desmobilizado pela segunda vez em Junho de 2021, em Barué, no âmbito do processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) – que resulta do acordo de paz de Maputo assinado em 2019.

Como a maioria dos ex-guerrilheiros da Renamo, Bartolomeu foi desmobilizado pela primeira vez em 1994, pela missão de paz das Nações Unidas em Moçambique (Onumoz).
O ex-guerrilheiro lembra que na segunda desmobilização, voltou para a aldeia de acolhimento em Tambara, com uma catana, enxada, machado, uma variedade de sementes agrícolas e uma promessa de projetos de desenvolvimento e pensão de sobrevivência.

“Disseram que viriam projetos e recebemos o programa DELPAZ. Na verdade, montou um sistema de irrigação por gravidade que estamos a usar desde o ano passado. Beneficiamos também de sementes e assistência de extensionistas do programa que esta a ajudar a aumentar muito a produção num sítio difícil de produzir, por ser uma zona seca”, explica Bartolomeu Tenesse

O ex-guerrilheiro é membro de uma das 10 associações de camponeses que recebe apoio do programa DELPAZ, que dá especial atenção à criação de oportunidades para jovens, mulheres, bem como ex-combatentes e suas famílias.

Bartolomeu e parte de sua família trabalham no Ponto Verde de Tambara, um campo de transferência de tecnologias, que assiste com tecnologias e práticas agrícolas inteligentes para o aumento da produção e produtividade das 10 associações agrícolas e da população de Tambara.

 

FACIM 2024: AICS e Sector Privado contribuindo para o desenvolvimento sustentável de Moçambique

A Agência Italiana para a Cooperação ao Desenvolvimento (AICS) participou da 59ª edição da Feira Agrícola, Comercial e Industrial de Moçambique (FACIM), realizada sob o lema “Industrialização: Inovação e Diversificação da Economia Nacional”, em Marracuene, de 26 de agosto a 1 de setembro.

A FACIM, a maior feira do setor privado em Moçambique, tem como principal objetivo promover trocas comerciais, estimular a produção e o consumo, e atrair investimentos para o país. Nesta edição, mais de 3 mil expositores de 26 países estiveram presentes, incluindo 2.300 empresas moçambicanas e 750 operadores económicos estrangeiros. O stand da AICS estava localizado no pavilhão da Itália, onde 17 empresas italianas apresentaram a excelência do “Made in Italy”.

Durante o evento, a AICS organizou um programa cultural. No âmbito do projeto de prevenção e controlo de doenças não transmissíveis, mais de 40 visitantes puderam medir a pressão arterial e a glicemia. Aqueles com valores elevados de glicemia e pressão arterial receberam recomendações para prevenir doenças como os diabetes.

Além disso, foi apresentado o projeto de infraestruturas urbanas verdes e resilientes, que através do qual, será construída a primeira Unidade de Compostagem Municipal em Maputo, com o envolvimento de parceiros do sector privado.

O projeto INCLU.DE apresentou a parceria com a REMOTELINE, uma empresa moçambicana que oferece interpretação em língua de sinais para facilitar a comunicação com pessoas com deficiência auditiva por meio de chamadas via WhatsApp.

Os visitantes também tiveram a oportunidade de conhecer diversas cooperativas e empresas apoiadas pela AICS, como a empresa Kuvanga, que comercializa frutas desidratadas como manga, ananás e coco em Inhambane, a cooperativa de frutas de Barué, especializada na comercialização de litchi, e a Associação dos Produtores de Café do Ibo, que comercializa o café do Ibo, no âmbito do projeto MAIS VALOR 1.

Os agricultores do Programa DELPAZ realçaram a sua alegria e satisfação na participação na feira internacional de Maputo, onde

conseguiram expor e vender os seus produtos, milho, feijão, cebola, amendoim, mapira, etc., e sobretudo dar a conhecer as boas práticas e fazer networking, como frisado pela reportagem a eles dedicadas pela cadeia televisiva internacional RTP, no Repórter África do dia 29 de agosto.

O stand da AICS atraiu um grande número de visitantes, incluindo empresários, jornalistas e parceiros interessados na cooperação italiana e, em particular, no trabalho da AICS com o sector privado em Moçambique. Entre os visitantes, destacamos a presença do Presidente da República de Moçambique, Filipe Nyusi, acompanhado de Osvaldo Petersburgo, Secretário de Estado da Juventude e Emprego. Ambos tiveram a oportunidade de dialogar com o Team Leader de Criação de Emprego, Alberto Tanganelli, sobre a nova estratégia da AICS para promover a inovação no emprego em parceria com entidades locais.

A Itália ajuda o PAM a aumentar a capacidade de resiliência dos agricultores em Moçambique

O Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas (PAM) congratula-se com uma contribuição de 2 milhões de euros do Governo italiano que ajudará a combater as vulnerabilidades induzidas pelas alterações climáticas e a reforçar a segurança alimentar e nutricional de 10 000 pessoas, incluindo pequenos agricultores, jovens e mulheres de organizações de agricultores seleccionadas na província de Tete, no centro de Moçambique.

A subvenção, atribuída pela Agência Italiana de Cooperação para o Desenvolvimento (AICS), surge numa altura crítica em que a crise climática se está a intensificar, com fenómenos meteorológicos extremos como ciclones, inundações e secas a ocorrerem com maior frequência e intensidade.

“Este é um projeto muito especial porque a agricultura é um sector em que acreditamos firmemente e é um dos pilares da cooperação italiana em Moçambique”, disse o Embaixador de Itália, Gianni Bardini, durante a cerimónia de assinatura hoje em Maputo.

“Ultrapassar as adversidades das alterações climáticas significa melhorar os meios de subsistência das comunidades vulneráveis que dependem da agricultura. É, portanto, essencial consolidar práticas agrícolas inteligentes em termos de clima e melhorar a gestão pós-colheita”, diz Antonella D’Aprile, Directora e Representante do PAM em Moçambique. A agricultura é responsável por 80% do PIB de Moçambique, a maior parte do qual provém da produção de pequenos agricultores. As catástrofes induzidas pelo clima afectam, portanto, os mais vulneráveis e, à medida que a variabilidade da precipitação e as temperaturas médias aumentam, a cobertura vegetal está a diminuir.

“Este projeto faz parte dos esforços da cooperação italiana para melhorar a agricultura em Moçambique face às alterações climáticas, em particular o El Niño. O foco no Corredor da Beira é crucial para Moçambique e países vizinhos como o Malawi e o Zimbabué”, disse Paolo Enrico Sertoli, Diretor da Agência Italiana de Cooperação para o Desenvolvimento, Escritório Regional de Maputo. “Também se baseia nas iniciativas da Cooperação Italiana na província de Tete, como o programa DELPAZ, que contribui para a paz e o desenvolvimento socioeconómico, melhorando as capacidades dos agricultores locais.”

A assinatura da iniciativa atesta o trabalho de coordenação e importantes sinergias que, partindo do conhecimento do território e das condições socioeconómicas de alguns distritos da Província de Tete, em busca de soluções técnicas adequadas e assistência técnica especializada, encontrou na Província e no PAM os parceiros ideais para abraçar mais um desafio, o de contribuir para melhorar as condições de vida de mais de 2.000 famílias de produtores dos Distritos de Moatize e Dôa.

“Nos últimos três anos, graças ao programa DELPAZ – Desenvolvimento Local para a Consolidação da Paz, financiado pela União Europeia, a Cooperação Italiana e o AICS trabalharam em estreita coordenação com a Província de Tete para relançar a economia das zonas mais afectadas pelo conflito e contribuir para a reintegração social e económica dos beneficiários do processo de DDR”, disse o Diretor do AICS Maputo.

A Itália é um parceiro estratégico do PAM em Moçambique. Desde 2020, a Itália financia actividades de emergência em Cabo Delgado e as operações do Serviço Aéreo Humanitário das Nações Unidas (UNHAS), gerido pelo PAM, em apoio a todas as organizações humanitárias. A contribuição mais recente é a primeira para actividades de desenvolvimento e reforço da resiliência destinadas a reforçar as capacidades dos agricultores e a segurança alimentar.

 

Água: Instrumento de Paz

Comemora-se hoje o Dia Mundial da Água, uma data crucial que nos recorda a importância desse recurso vital para a sobrevivência humana e o equilíbrio dos ecossistemas. Este ano, o tema “Água para a Paz” destaca a capacidade da água de promover a paz e a cooperação entre comunidades e países.

Em Moçambique, a palavra “água” começa com “m”. Mati, massi, mazhi, matchi, mave, madzi, maze, madi, madji – todas essas variações ressoam com a raiz “m” e estão intimamente ligadas à fertilidade, à vida e à feminilidade. A água, assim como a mulher grávida, adapta-se às circunstâncias, supera obstáculos e dá à luz vida. É uma metáfora poderosa que reflete a natureza transformadora e vital da água.

No entanto, quando a água é escassa ou poluída, quando as pessoas têm acesso desigual ou nenhum acesso, as tensões podem surgir entre comunidades e países. As mudanças climáticas estão a exacerbar esses desafios, tornando ainda mais urgente a união em torno da protecção e conservação desse recurso precioso.

Em resposta a crises como a epidemia de cólera em Moçambique, trabalhando com as instituições moçambicanas, organizações internacionais, como o Central Emergency Response Fund (CERF), têm desempenhado um papel crucial, fornecendo financiamento para garantir acesso à água potável e serviços de saneamento básico para centenas de milhares de pessoas. A água contaminada representa o principal meio de transmissão da cólera, sendo assim garantir o acesso à água potável, é uma forma eficaz de travar a epidemia. A cooperação internacional, incluindo o investimento da Agência Italiana de Cooperação para o Desenvolvimento (AICS) no CERF, demonstra o poder da solidariedade e da cooperação global.

Além disso, iniciativas como o workshop sobre monitoramento e qualidade da água que teve lugar de 28 a 29 de Novembro 2023, organizado pelo centro de biotecnologia da Universidade “Eduardo Mondlane” (UEM) com o apoio da AICS, destacam o compromisso contínuo com a gestão sustentável dos recursos hídricos: foram ressaltados os desafios enfrentados por Moçambique, especialmente após eventos climáticos extremos como os ciclones, e a importância da cooperação internacional e do intercâmbio de conhecimentos para enfrentar esses desafios.

Em Cabo Delgado, a AICS junto com as Nações Unidas – nomeadamente com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e o Programa Alimentar Mundial (PAM) – têm apoiado as instituições moçambicanas a fornecer acesso à água potável e serviços básicos essenciais para crianças e famílias deslocadas em campos de acolhimento devido aos ataques violentos que continuam a ocorrer na região. Por exemplo nas localidades de Palma Sede, Quitunda e Mute, foram construídos 15 furos, e reabilitados outros 15. Foram realizadas 57 sessões de sensibilização, centradas na promoção de práticas de higiene positivas, incluindo a importância de lavar as mãos com água, como meio de prevenção de doenças. Estas sessões de sensibilização atingiram mais de 22.000 pessoas. Essas intervenções não apenas garantem o acesso à água limpa, mas também promovem a educação em higiene e saúde nas pessoas deslocadas pelo conflito em Cabo Delgado, demonstrando como a água está intrinsecamente ligada ao bem-estar humano, e ao desenvolvimento sustentável.

A AICS está activamente envolvida na construção de sistemas hídricos e na perfuração de poços nas áreas mais afectadas pela guerra civil através do DELPAZ. O DELPAZ, o programa do governo moçambicano e financiado pela União Europeia, com o suporte do Fundo Das Nações Unidas para o Desenvolvimento de Capital (UNCDF), é implementado nas Províncias de Manica e Tete pela AICS, enquanto a Agência Austríaca para o Desenvolvimento (ADA) actua na Província de Sofala. Esses esforços não apenas melhoram o acesso à água potável, mas também desempenham um papel crucial na restauração da confiança e da estabilidade nas comunidades devastadas pelo conflito. O Programa DELPAZ é um exemplo tangível de como a cooperação internacional pode transformar positivamente a vida das pessoas, promovendo a paz e a reconstrução pós-conflito através do acesso a recursos fundamentais como a água.

À medida que nos aproximamos do 10º Fórum Mundial da Água em Bali, Indonésia (18 a 25 de maio), é fundamental mantermos o intercâmbio de melhores práticas e colaboração global para abordar os desafios relacionados à água. A presença da Sede Regional da AICS em Maputo no fórum ressalta o compromisso contínuo da comunidade internacional em promover a gestão sustentável da água e alcançar objectivos de desenvolvimento comuns.

Reflexões e aspirações: as vozes dos beneficiários do DELPAZ nas províncias de Tete, Sofala e Manica

Enquanto o cenário político em Maputo discute fervorosamente a possibilidade de um Plano Nacional de Reinserção, estimulando um diálogo aprofundado entre as autoridades e a sociedade civil, um caminho para uma mudança tangível já está a ser percorrido nas províncias de Manica, Tete e Sofala. Estes passos, dados com determinação, já produziram resultados que merecem ser apoiados e podem constituir um ponto de partida sólido. No entanto, a solução não reside apenas em políticas e planos de ação, mas sobretudo na experiência directa e nas vozes autênticas dos protagonistas desta transformação.

Nos dias 21 e 22 de março, realizou-se em Maputo a Conferência Internacional sobre Reintegração Pós-Conflito, promovida pelo Instituto para a Democracia Multipartidária (IMD), sob o alto patrocínio do Ministério da Justiça, do Ministério dos Combatentes e do Secretariado para a Paz (PPS). Entre os participantes, oriundos das províncias de Tete, Sofala e Manica, destacaram-se as vozes vibrantes de Florinda, Rita, Mário, Graça, Anita, Isabel, Carménia e Carlota.

Para muitos deles, era a primeira vez que se deslocavam a Maputo e traziam consigo uma mensagem cheia de esperança e urgência: “Queremos paz”, declararam enfaticamente. “Queremos trabalhar a terra, somos camponeses. Queremos cultivar a nossa própria comida, mandar os nossos filhos para a escola. Queremos viver em paz e, para isso, precisamos da vossa ajuda”. As suas palavras ressoam com uma urgência palpável, uma vez que reflectem necessidades essenciais: acesso à água, infra-estruturas, estradas, mercados, hospitais e escolas.

As experiências relatadas durante a conferência foram comoventes e esclarecedoras. Anita, com os olhos ainda incrédulos, comentou a visão da abundância de água nos hotéis de Maputo, contrastando com a realidade da sua comunidade, onde a água é um bem precioso que só pode ser alcançado após longas viagens. Mário, impressionado com a grandiosidade e vibração da capital, agradeceu ao DELPAZ por ter levado o furo de água à sua comunidade e novas práticas agrícolas, juntamente com sementes e ferramentas, expressando a importância de alargar este tipo de projectos a todas as comunidades carenciadas.

Florinda partilhou um sentimento de gratidão e reconhecimento: “Nós não éramos nada, mas agora estamos aqui a falar e vocês estão a ouvir-nos. O DELPAZ tornou-nos visíveis”. Estes testemunhos são um reflexo tangível do trabalho realizado pela DELPAZ, também evidenciado pela distribuição da Declaração de Inhanzónia, um símbolo de solidariedade e inclusão promovido através da organização do acampamento solidário em novembro do ano passado no distrito de Báruè.

O papel das mulheres como actores e líderes locais foi particularmente enfatizado, tendo Carlota Inhamussua, colaboradora ativa do Programa DELPAZ na Província de Sofala, partilhado experiências significativas como o projecto da poupança e da caixa dos sonhos. Estas actividades visam não só disponibilizar recursos tangíveis, mas também estimular os sonhos e objectivos das comunidades envolvidas, reforçando a confiança e o sentimento de pertença das pessoas às suas comunidades.

O caminho para a paz e a prosperidade exige um compromisso colectivo e sustentado. Quando estas comunidades começam a dar os primeiros passos em direção à mudança, é crucial que não sejam deixadas sozinhas. Precisam de tempo, apoio e recursos para crescerem e continuarem a cultivar a paz nos seus territórios. Só através de um compromisso partilhado e de uma solidariedade duradoura é que se pode garantir um futuro de esperança e prosperidade para todas as comunidades moçambicanas.

Todos eles têm clamado para não serem deixados sozinhos, agora que estão a começar a ‘gatinhar’ e precisam de mais tempo e apoio para poderem ‘crescer’ e continuar a cultivar a paz nas suas comunidades.

Para isso contribui também o DELPAZ, em parceria com o IMD, implementado pelo AICS em Manica e Tete, e pela ADA em Sofala, com o apoio do UNCFD. Para além de água, infra-estruturas, vias de acesso, sementes e novas práticas agrícolas, estimula os sonhos das comunidades mais afectadas pela violência armada, onde os beneficiários do DDR voltaram a viver, juntamente com as suas famílias.

Como repetidamente expresso pelo Embaixador da UE em Moçambique, Antonino Maggiore, “Como parceiros de Moçambique, estamos plenamente conscientes dos desafios que enfrentamos em matéria de reintegração e reconciliação; […] A paz e a reconciliação só podem ser alcançadas através de uma democracia próspera e da prosperidade em benefício de todos os cidadãos moçambicanos.”

 

 

Dona Crisse, um telemóvel e um cabrito

Crisse Agostinho Guezane é uma mulher de 28 anos da comunidade de Missoche, no distrito de Moatize.

Ela carrega consigo não apenas o peso da maternidade de quatro filhos, mas também o desejo ardente de transformar sua realidade. A sua é uma história exemplar, um testemunho de resiliência e determinação.

Antes da intervenção do Programa DELPAZ na sua comunidade, dona Crisse limitava-se a cultivar apenas milho. O conhecimento sobre a produção de hortícolas era escasso, mas a sua vontade de aprender e progredir era inabalável.

Graças à iniciativa da Fundação SEPPA, um dos parceiros do Programa DELPAZ, dona Crisse recebeu as ferramentas e insumos necessários para expandir suas actividades agrícolas. Sementes de repolho, tomate e feijão foram fornecidas, abrindo portas para um novo capítulo na sua vida. Com a orientação e apoio do pessoal da fundação, Crisse aprendeu os segredos da produção dessas culturas.

Numa área modesta de 70×70 metros quadrados, dona Crisse começou a sua jornada como agricultora de hortícolas. Através da venda da sua produção, ela alcançou pequenas conquistas que reflectiram grandes mudanças na sua vida, e naquela dos filhos. Com o dinheiro adquirido, comprou um telefone celular e uma cabra, símbolos tangíveis do seu progresso e determinação.

Determinada a ir além, dona Crisse tem planos ambiciosos para o futuro. Ela agora quer expandir a sua área de produção para 100×100 metros quadrados, para cultivar uma variedade ainda maior de culturas, incluindo repolho, tomate, couve, cebola, milho e feijão. Além disso, aspira a ser um modelo para outros agricultores na sua comunidade, inspirando-os a perseguir os seus próprios sonhos e objectivos. E ela é que diz: “só a paz nos permite de estar bem, só a paz nos permite de garantir a comida, só é a paz que nos faz ricos!”

 

Moçambique: acordo de parceria energética e aumento dos recursos financeiros para a cooperação

Maputo, 19 Mar – “A Itália pretende reforçar a cooperação com Moçambique, incluindo em novas áreas estratégicas como a inovação tecnológica e digital, a transição ecológica e as fontes de energia renováveis”, declarou o Ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Luigi Di Maio, durante a sua visita relâmpago a Moçambique para a assinatura do acordo de parceria energética entre os dois países.

“O compromisso italiano continua e este ano, por ocasião do 30º aniversário do Acordo de Paz (assinado em Roma a 4 de Outubro de 1992), estão previstos novos acordos para reforçar a parceria com Moçambique”, salientou o ministro, anunciando a próxima visita do Presidente da República, Sérgio Mattarella, à capital moçambicana “antes de Agosto”, também para analisar novas áreas de colaboração.

O aumento dos recursos financeiros para a cooperação internacional, dentro de um novo quadro programático plurianual para o desenvolvimento, dará continuidade ao apoio italiano à paz.

Giulia Zingaro, líder do programa DELPAZ, saudou o Ministro Di Maio em nome do novo director da AICS Maputo, Paolo Enrico Sertoli, convidando-o a voltar em breve para ver o trabalho da AICS em Moçambique.