Obras de reabilitação do Centro de Saúde da Namaacha concluídas em breve

O Director do Escritório da AICS em Maputo, Paolo Enrico Sertoli, e a Administradora do Distrito de Namaacha, Suzete Alberto Dança, assinaram hoje o contrato para a segunda fase de reabilitação do Bloco Maternidade (Internamento e Salas de Parto) e do Bloco Ambulatório e Farmácia do Centro de Saúde de Namaacha. A entrega da obra concluída (com um valor total de aproximadamente 100.000 euros) será em Dezembro de 2022.

Os trabalhos de reabilitação, realizados no âmbito da iniciativa “AID”. 10897 – Programa de Apoio a Projectos Comunitários” (AID 10897), permitirá à população do Distrito de Namaacha ter um Centro de Saúde funcional.

As obras previstas para a segunda fase juntam-se à reabilitação do edifício principal (500 m2), concluída em 2020. Como parte da primeira fase, o edifício, que foi construído nos anos 40, recebeu, entre outras coisas um novo telhado (incluindo a estrutura de suporte do telhado e tecto falso), a reabilitação das casas de banho, um novo pavimento com revestimento em vinil, a substituição de janelas e portas, canalização e sistemas eléctricos, a revisão da lógica funcional interna, um novo sistema de iluminação interna e externa, a construção de casas de banho públicas externas com 3 compartimentos para homens, mulheres e pessoas deficientes, e a construção de um novo sistema de pavimento e rampa de acesso para facilitar a circulação de pessoas deficientes entre edifícios.

 

 

 

Curso Internacional Avançado para o Desenvolvimento Sustentável das Comunidades Costeiras

A quinta edição do Curso Internacional Avançado para o Desenvolvimento Sustentável das Comunidades Costeiras arrancou ontem na Delegação Tricase do CIHEAM Bari. Este ano, o programa acolhe uma delegação de 13 funcionários ministeriais de 10 países costeiros mediterrânicos e africanos, incluindo a Albânia, Argélia, Egipto, Quénia, Líbano, Moçambique, Senegal, Somália, Tunísia e Uganda.

Financiado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação Internacional (MAECI) de Itália, o curso é organizado pelo CIHEAM Bari com o apoio técnico da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e da Comissão Geral das Pescas do Mediterrâneo (CGPM). O principal objetivo é apoiar a Transformação Azul e o Desenvolvimento Sustentável das Comunidades Costeiras, promovendo uma abordagem integrada que tenha em conta as múltiplas dimensões da sustentabilidade e o equilíbrio entre a conservação ambiental e o desenvolvimento socioeconómico.

Durante a cerimónia de abertura, foi sublinhada a presença de peritos internacionais, bem como a participação da comunidade local. Em particular, as conclusões foram confiadas a Paolo Enrico Sertoli, Chefe do Gabinete de Maputo da Agência Italiana de Cooperação para o Desenvolvimento (AICS), que apresentou a mensagem da AICS Maputo de colaboração e apoio aos esforços de desenvolvimento sustentável em Moçambique.

A comunidade local acolheu a delegação internacional visitante, destacando o papel inclusivo e inspirador do Museu do Porto Tricase, onde a diversidade cultural promove a partilha de ideias e perspectivas para um futuro mais sustentável das comunidades costeiras globais. Esta quinta edição do curso oferece uma importante oportunidade de diálogo e cooperação entre especialistas, investigadores, decisores e comunidades locais, lançando as bases para um compromisso conjunto com a sustentabilidade ambiental e social.

Além disso, Paolo Enrico Sertoli destacou o papel crucial do AICS Maputo na promoção do desenvolvimento sustentável em Moçambique, afirmando que “através das iniciativas do AICS em Moçambique, está a ser promovida uma abordagem integrada para apoiar a Transformação Azul e o Desenvolvimento Sustentável das Comunidades Costeiras”.

O Chefe de Gabinete da AICS Maputo sublinhou ainda que “o envolvimento activo do AICS Maputo na capacitação e apoio regulamentar reflecte o compromisso da Agência em apoiar Moçambique na adesão às convenções e protocolos internacionais, contribuindo assim para os esforços nacionais de gestão costeira e marinha sustentável.”

Este reconhecimento foi reiterado por Sertoli, que afirmou que “as iniciativas em curso lideradas pelo AICS Maputo, incluindo as propostas na província de Cabo Delgado, são exemplos tangíveis do compromisso da Agência em fomentar modelos de gestão participativa e sustentável, assegurando o envolvimento ativo das comunidades e instituições locais na conservação dos ecossistemas marinhos”.

O Curso conta com a presença de Ciro Novidade, actual Chefe do Departamento Central de Administração do Mar do Instituto Nacional do Mar (INAMAR, IP). A sua presença entre os participantes reflecte o empenho de Moçambique em contribuir para o desenvolvimento sustentável das comunidades costeiras através da participação em iniciativas internacionais de formação especializada.

Aics encontra OSC em Maputo

Primeiro encontro do Dr. Paolo Enrico Sertoli com representantes de organizações da sociedade civil italiana que trabalham em Moçambique, Zimbabué e Malawi.

Encontro AICS-OSC

O encontro foi fortemente desejado pelo novo Chefe da Agência Italiana de Cooperação para o Desenvolvimento – Escritório de Maputo, com o objectivo de fazer o balanço das actividades em curso e lançar as bases para o trabalho dos próximos meses para um planeamento mais estratégico da Cooperação Italiana, a elaboração de uma nova narrativa do desenvolvimento, um nível mais elevado de colaboração entre a Agência Italiana de Cooperação para o Desenvolvimento (AICS) e as OSC.

Foi o primeiro de uma série de encontros planjeados para favorecer as soinergias entre Maputo, Gabinete Central e OSC para analisar em conjunto os desafios comuns, trabalhando em harmonia para alcançar os objectivos de desenvolvimento sustentável.

A reunião híbrida – online e presencial – contou com a presença de representantes das 32 OSC que trabalham na agricultura, saúde, educação e formação técnico-profissional.

Lurdes, a ex-guerrilheira que alimentava uma companhia, hoje produz para educar os filhos

Lurdes António, 68 anos, não teve acesso a educação formal na infância, como a maioria das mulheres daquela época nas zonas rurais de Moçambique. Foi recrutada para a base (de Minga), da guerrilha da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) em 1982, aos 26 anos. Teve treino militar em Mandie, no distrito de Guro, na província de Manica.

No auge da guerra civil, passou por cinco bases militares da guerrilha, e produzia comida nos campos agrícolas de civis e dos militares e cozinhava para a companhia, onde conheceu depois o seu marido, também ex-guerrilheiro.

“Minha tarefa era carregar bagagens dos militares e cozinhar para eles nas suas missões. Se nos dissessem vamos a um lugar, apenas carregávamos bagagens e seguíamos, e terminado o programa – quer seja de reconhecimento ou ataque – regressávamos. Daí mandavam-nos para nossas casas e seriamos chamados quando houvesse um novo programa”, conta.

A seca e a fome severa atingiram Moçambique no final dos anos 80, e um “sofrimento terrível” abalou a sua companhia, quando decidiu com o marido abandonar a guerra e seguir viagem para se instalar em Nhamadjiua, no posto administrativo de Nhampassa, no distrito de Barué, província de Manica, onde foram depois desmobilizados com o fim da guerra em 1992.

“Em 2012 voltamos a responder ‘o chamado da revolução’, convocado pelo líder histórico Afonso Dhlakama”, que já vinha a denunciar falhas graves na implementação do Acordo Geral de Paz (AGP) de Roma.

Lurdes António voltou a ser desmobilizada junto com o marido em 2021, no âmbito do processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) dos ex-guerrilheiros da Renamo em Barué.

Desde então passou a se dedicar a agricultura e aprendeu novas técnicas agrícolas introduzidas com o Programa DELPAZ, que está a assegurar a reintegração económica e social de todos os ex-combatentes, suas famílias e comunidades rurais atingidas pelo conflito para alcançar uma paz duradoura em Moçambique.

“O DELPAZ veio e está a nos ensinar. Fazíamos cultivos de forma rudimentar, com sementes tradicionais e tínhamos muitas perdas, mas agora estamos a usar técnicas agrícolas melhoradas, usamos linhas para as covas na sementeira, e já temos rendimentos para educar os nossos filhos”, explica avivada com as novas conquistas.

 

Dia Mundial dos Oceanos: Juntos na Rota do Crescimento Azul

Hoje é o Dia Mundial dos Oceanos. O slogan deste ano é Revitalização: uma acção colectiva pelo oceano, um apelo para que todos tomem medidas para reparar os danos que a humanidade continua a infligir à vida marinha e aos meios de subsistência que o oceano proporciona.

Em Moçambique, o Ministério do Mar, Águas Interiores e Pescas, organizou o seminário ‘Juntos na Rota do Crescimento Azul’ no belo Museo do Mar, desenhado pelo arquitecto José Forjaz, em Maputo.

O seminário contou com a presença de Paolo Enrico Sertoli, Director do escritório da AICS em Maputo, que está envolvio em programas de cooperação caracterizados por um forte interesse na gestão sustentável dos recursos marinhos e costeiros e dos mangais em particular, com, por exemplo, os programas “RINO: recursos, inovação e desenvolvimento para áreas de conservação”, “Mangrowth”, e “SECOSUD”.

Os oradores sublinharam a necessidade de aumentar constantemente a consciência pessoal e colectiva sobre a importância dos oceanos, as ameaças que enfrentam, o papel crucial que todos desempenham na sua utilização sustentável, e o apelo à acção para mudar atitudes no sentido de alcançar os objectivos da ODS14 através da investigação, conhecimento e acesso/gestão da informação como uma das ferramentas-chave para a elaboração de políticas eficazes e outros instrumentos de gestão sectorial.

Houve grande interesse em apresentações sobre uma série de iniciativas e instituições que trabalham na economia azul, tais como a Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável em particular promovida pela UNESCO, um documento que sublinha a importância da ciência para a conservação dos oceanos com o objectivo de promover a gestão sustentável dos recursos marinhos, promover a saúde humana, libertar o potencial de carbono azul e combater a pesca ilegal; Biofund (wwww. biofund.org.mz), a Fundação para a Conservação da Biodiversidade criada como um instrumento financeiro privado cujo objectivo é financiar a conservação da biodiversidade em Moçambique; Fundo ProAZul (www.proazul.gov. mz), um mecanismo de finanças públicas que trabalha em parceria com diferentes sectores do Estado, o sector privado e a sociedade civil para alinhar recursos estratégicos e financeiros com iniciativas eficazes para a utilização sustentável das águas interiores, do mar e do litoral, cujas principais áreas de intervenção são a gestão sustentável do litoral e dos mangais, a pesca e a aquicultura, a investigação sectorial, as infra-estruturas portuárias, o turismo e o desporto; Iniciativa Grande Muralha Azul da IUCN (https://www. iucn.org/news/secretariat/202111/global-launch-great-blue-wall), cujo objectivo é criar uma rede de áreas de conservação marinha para acelerar o progresso em direcção ao objectivo de proteger 30 por cento dos oceanos até 2030.

Em termos de documentos governamentais, foi apresentado, entre outros, o Plano de Ordenamento do Espaço Marítimo, que abrange todo o espaço marítimo de Moçambique e visa promover o ordenamento do espaço marítimo, respeitando os princípios da gestão integrada e do desenvolvimento sustentável; a Estratégia de Desenvolvimento da Economia Azul – derivada da estratégia similar a nível continental – importante para Moçambique para fomentar a concorrência no acesso aos recursos marinhos, aumentar as oportunidades de emprego, promover o investimento privado, a inclusão social e a educação ambiental; e a Estratégia e Plano de Acção Nacional para a Conservação da Biodiversidade em Moçambique, que visa, entre outras coisas, promover o bom estado ambiental do meio marinho, bem como a prevenção de riscos e a minimização dos efeitos resultantes de desastres naturais e alterações climáticas ou da acção humana.

Depois dos ciclones, a AICS distribui sementes e enxadas para recomeçar a agricultura

Gombe e Ana são os dois ciclones que atingiram violentamente Moçambique  em Março deste ano. Para além de causarem morte e devastação, comprometeram a produção agrícola de regiões inteiras. Ventos fortes e chuvas torrenciais forçaram as populações locais a afastarem-se das suas casas para lugares mais seguros. Além disso, a produção agrícola das populações rurais tem sido seriamente afectada, comprometendo a segurança alimentar de todo o país.

A Agência Italiana de Cooperação para o Desenvolvimento (AICS), para além do programa de emergência já activo no país, respondeu ao apelo lançado pelas autoridades governamentais e pelos camponeses moçambicanos e distribuiu sementes e instrumentos agrícolas para evitar a crise alimentar.

O escritório da AICS em Maputo foi a Mutarara, na província de Tete, onde, juntamente com as autoridades locais, distribuiu 420 kits com sementes, uma catana e duas enxadas, para que os camponeses locais possam produzir quantidades suficientes apesar do atraso na sementeira.

Sinjal oyee! Fome ziiii! Os agradecimentos corais das mulheres e dos homens que receberam sementes de milho, feijão, abóbora, quiabo, couve, tomate, cebola, para se levantarem novamente após as suas perdas.

Pontos verdes (CDR) – Engajando pequenos Produtores como o Paulo Lequissio a aumentar sua renda por meio de Agricultura inteligente e estimulando a consciência na Inclusão

Paulo Lequissio, 60 anos, é residente na Comunidade de Mwanalirenji, posto Administrativo de Zobué, distrito de Moatize é casado com Sitifonia Mapios, mãe de 6 filhos. O senhor Paulo é beneficiário do Programa DELPAZ desde 2023.

“A primeira vez que ouvi falar do DELPAZ foi quando fomos convocados pelo nosso líder a participar de uma seleção de baixo das nossas mangueiras onde estavam alguns homens que nos falaram da agricultura de conservação e sobre Paz e reconciliação”, conta o senhor Paulo. “Fiquei muito interessado porque eles falavam de uma comunidade inclusiva e logo aceitei participar para aprender coisas que para mim eram novas”.

“Fomos informados que é possível produzir e obter bons rendimentos sem gastar muito dinheiro comprado medicamentos, adubos e sem gastar nosso milho para dar as mães de sachas como pagamento pelo trabalho”, continua o senhor Paulo, acrescentando que achou os argumentos tão convincentes que assim decidiu adoptar a título experimental as práticas de agricultura de conservação, poupanças e participar nos debates sobre a ’Paz, Reconciliação e inclusão’ “com nossos irmãos na comunidade vulgos DDR”. Foi assim que preparou uma área pequena de 1350m2 (30m x 45m) para produzir tomate e 800m2 (20mx40m) para produzir Feijão Vulgar.

O Sr. Paulo foi um dos beneficiários desta iniciativa. Recebeu catana, enxada, regado, semente de tomate e feijão vulgar com assistência técnica completa para implementação de agricultura de conservação.

Ainda em conversa, o senhor Paulo contou-nos que o rendimento que obteve na primeira experiência da prática de agricultura de conservação – usando a cobertura morta (mulching) e o biopesticida conhecido localmente por Manguala de folhas amargas (pesticidas biológicas) e o uso de Manhoa (esterco animal) nas suas parcelas, foi tão satisfatório que decidiu aumentar a área de cultivo usando as mesmas técnicas de Agricultura de conservação pelo menos para meio hectare. “Faz tempo que venho produzido tomate e feijão, porém na pequena área que preparei 1350m2 (0,135 hectare), usando 10g de tomate na variedade Rio Grande e a 1kg de feijão vulgar na variedade Catarina, distribuídos no âmbito de DELPAZ consegui 35 cestos de 30kg de tomate e 4 latas de feijão”.

No momento da colheita e venda de tomate e feijão o preço do mercado já estava muito baixo, contudo conseguiu ter um lucro de 7000 MT com a venda dos 30 cestos e duas latas de feijão. Com o lucro obtido a partir da venda desta produção foi possível comprar 30 galinhas, material escolar para os filhos, roupas, alimentação para casa e alugar carrinha de mão para puxar o esterco bovino para a machamba.

Segundo ele, antes do seu engajamento com DELPAZ não usava a agricultura de conservação porque nunca imaginou que fosse possível produzir sem que haja custos com pesticidas, adubos inorgânicos e também por desconhecimento das suas vantagens. No lugar da semente melhorada ele usava o grão selecionado da campanha anterior para a cultura de feijão, e usava uma taxa de sementeira muito alta o que infelizmente dava rendimentos muito baixo. Mas com os treinamentos sistemáticos promovido pelo DELPAZ nas comunidades sobre as práticas da agricultura inteligente produção sustentável, uso de compactos e densidade adequada, associado aos bons rendimentos obtidos, foi entendendo a necessidade do uso de factores de produção locais, como o uso das plantas locais para produção de pesticidas, esterco animal local para adubação e uso de mulching.

Na comunidade, ele considera-se um testemunho vivo do impacto da intervenção do DELPAZ: “Hoje, por experiência própria, sou testemunha do que a prática da agricultura de conservação usando Mulching, taxa de sementeira ideal, adubação orgânica e pesticidas orgânicas podem fazer em termos de sustentabilidade e rentabilidade’’.

O senhor Paulo, satisfeito com os resultados obtidos anteriormente, pretende aumentar a sua área de produção para um hectare (1 ha) em agricultura de conservação para produção de hortícolas e reza para que a chuva se faça sentir para ter bons resultados tendo em conta que ele não tem uma motobomba. Com o aumento dos seus rendimentos ele pretende iniciar uma poupança com a parte dos lucros de modo a conseguir concretizar futuramente o sonho de comprar uma camioneta para escoar os seus produtos pessoalmente sem ter de perder muita produção por falta de meio de transporte para escoar a sua produção.

O senhor Paulo está deveras satisfeito e deseja que o DELPAZ continuará apoiando a sua comunidade e agradece especialmente os técnicos que dia a dia estão com eles, no terreno.

 

Bartolomeu, o ex-guerrilheiro que vive da agricultura no “deserto”

Bartolomeu Tenesse, 58 anos, lutou por 13 anos na guerrilha da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), numa frente que tinha a missão de sustentar a guerra civil, com armamento que devia assaltar em quartéis. Foi desmobilizado duas vezes, a última em Junho de 2021 e está pela segunda vez na chamada vida civil.

O ex-guerrilheiro está a lutar agora para sustentar a sua comunidade, com a agricultura que pratica no povoado de Casado, em Tambara, um distrito de clima seco de estepe, com inverno seco e baixa precipitação anual.

O distrito de Tambara, na província de Manica, no centro de Moçambique, está a ser atingido por uma fome severa, provocada por uma seca induzida pelo fenómeno El Niño, que tem devastado colheitas. Tambara separa-se, através do rio Zambeze, com o distrito de Mgabu, no Malawi, que foi declarado estado de calamidade devido ao fenômeno.

“A fome este ano é assustadora, há famílias a se alimentar de farelo de milho, frutas e tubérculos silvestres. Outros passam dias a fio sem comer. Então se eu intensificar essa agricultura, com boa disponibilidade de água, posso enfrentar qualquer tipo de fome”, afirma Bartolomeu Tenesse, com a mão no queixo e o braço sustentado no cabo da enxada.

Bartolomeu, foi recrutado para a guerrilha aos 15 anos, em 1985, em Angónia (Tete), quando fazia uma viagem para Blantyre, em busca de emprego no Malawi, durante a guerra civil que durou 16 anos.

“O nosso carro foi interpelado, foram separados os jovens e levados para um lugar, onde pernoitamos. Ao amanhecer, ficamos surpresos ao ver que estávamos sendo controlados por homens com armas em punho. Avisaram-nos que devíamos cumprir a tarefa de trazer democracia no país”, quando foi levado para treino militar na base de Chiriza, em Angónia.

Ficou naquela base até 1987, fazendo operações na província de Tete, quando foi solicitado na base central Merece-Chamboco, na serra da Gorongosa, onde conheceu e dialogou com o líder histórico, Afonso Dhlakama.

“Saudamos o presidente (Afonso) Dhlakama, como soldados de Tete. Daí fomos divididos em grupos pequenos, e passei para Inhaminga, em Sofala. Depois engajamos em Dondo, Nhamatanda, Shemba até regressar a uma das bases na província de Tete”.

Acrescentou: “a nossa tarefa era combater e recolher o material bélico para as nossas bases, numa dessas missões de entregas de armas, fui levado novamente até ao local onde estava o presidente Afonso Dhlakama”. Foi depois reconhecido por essas missões e poucos anos depois foi alcançado o Acordo Geral de Paz (AGP), de Roma, em 1992.

Mesmo “em paz, ficávamos a sofrer, sem liberdade e nem democracia”, o que o levou a regressar às matas em 2017, a partir da base de Nhandete (Tambara), de onde choraram “amargamente” a morte de Afonso Dhlakama, em Maio de 2018, até ser desmobilizado pela segunda vez em Junho de 2021, em Barué, no âmbito do processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) – que resulta do acordo de paz de Maputo assinado em 2019.

Como a maioria dos ex-guerrilheiros da Renamo, Bartolomeu foi desmobilizado pela primeira vez em 1994, pela missão de paz das Nações Unidas em Moçambique (Onumoz).
O ex-guerrilheiro lembra que na segunda desmobilização, voltou para a aldeia de acolhimento em Tambara, com uma catana, enxada, machado, uma variedade de sementes agrícolas e uma promessa de projetos de desenvolvimento e pensão de sobrevivência.

“Disseram que viriam projetos e recebemos o programa DELPAZ. Na verdade, montou um sistema de irrigação por gravidade que estamos a usar desde o ano passado. Beneficiamos também de sementes e assistência de extensionistas do programa que esta a ajudar a aumentar muito a produção num sítio difícil de produzir, por ser uma zona seca”, explica Bartolomeu Tenesse

O ex-guerrilheiro é membro de uma das 10 associações de camponeses que recebe apoio do programa DELPAZ, que dá especial atenção à criação de oportunidades para jovens, mulheres, bem como ex-combatentes e suas famílias.

Bartolomeu e parte de sua família trabalham no Ponto Verde de Tambara, um campo de transferência de tecnologias, que assiste com tecnologias e práticas agrícolas inteligentes para o aumento da produção e produtividade das 10 associações agrícolas e da população de Tambara.

 

FACIM 2024: AICS e Sector Privado contribuindo para o desenvolvimento sustentável de Moçambique

A Agência Italiana para a Cooperação ao Desenvolvimento (AICS) participou da 59ª edição da Feira Agrícola, Comercial e Industrial de Moçambique (FACIM), realizada sob o lema “Industrialização: Inovação e Diversificação da Economia Nacional”, em Marracuene, de 26 de agosto a 1 de setembro.

A FACIM, a maior feira do setor privado em Moçambique, tem como principal objetivo promover trocas comerciais, estimular a produção e o consumo, e atrair investimentos para o país. Nesta edição, mais de 3 mil expositores de 26 países estiveram presentes, incluindo 2.300 empresas moçambicanas e 750 operadores económicos estrangeiros. O stand da AICS estava localizado no pavilhão da Itália, onde 17 empresas italianas apresentaram a excelência do “Made in Italy”.

Durante o evento, a AICS organizou um programa cultural. No âmbito do projeto de prevenção e controlo de doenças não transmissíveis, mais de 40 visitantes puderam medir a pressão arterial e a glicemia. Aqueles com valores elevados de glicemia e pressão arterial receberam recomendações para prevenir doenças como os diabetes.

Além disso, foi apresentado o projeto de infraestruturas urbanas verdes e resilientes, que através do qual, será construída a primeira Unidade de Compostagem Municipal em Maputo, com o envolvimento de parceiros do sector privado.

O projeto INCLU.DE apresentou a parceria com a REMOTELINE, uma empresa moçambicana que oferece interpretação em língua de sinais para facilitar a comunicação com pessoas com deficiência auditiva por meio de chamadas via WhatsApp.

Os visitantes também tiveram a oportunidade de conhecer diversas cooperativas e empresas apoiadas pela AICS, como a empresa Kuvanga, que comercializa frutas desidratadas como manga, ananás e coco em Inhambane, a cooperativa de frutas de Barué, especializada na comercialização de litchi, e a Associação dos Produtores de Café do Ibo, que comercializa o café do Ibo, no âmbito do projeto MAIS VALOR 1.

Os agricultores do Programa DELPAZ realçaram a sua alegria e satisfação na participação na feira internacional de Maputo, onde

conseguiram expor e vender os seus produtos, milho, feijão, cebola, amendoim, mapira, etc., e sobretudo dar a conhecer as boas práticas e fazer networking, como frisado pela reportagem a eles dedicadas pela cadeia televisiva internacional RTP, no Repórter África do dia 29 de agosto.

O stand da AICS atraiu um grande número de visitantes, incluindo empresários, jornalistas e parceiros interessados na cooperação italiana e, em particular, no trabalho da AICS com o sector privado em Moçambique. Entre os visitantes, destacamos a presença do Presidente da República de Moçambique, Filipe Nyusi, acompanhado de Osvaldo Petersburgo, Secretário de Estado da Juventude e Emprego. Ambos tiveram a oportunidade de dialogar com o Team Leader de Criação de Emprego, Alberto Tanganelli, sobre a nova estratégia da AICS para promover a inovação no emprego em parceria com entidades locais.

PRETEP PLUS: Novo Instituto Técnico em Cabo Delgado fortalece educação e empregabilidade juvenil

Hoje teve lugar a inauguração do Instituto Industrial e Comercial Engenheiro Filipe Jacinto Nyusi, em Namáua, na província de Cabo Delgado. O evento contou com a presença do Presidente da República de Moçambique, sua Excelência Engenheiro Filipe Jacinto Nyusi, do Diretor da Sede da AICS Maputo, Paolo Enrico Sertoli, do Secretário de Estado do Ensino Técnico-Profissional, Mety Gondola, assim como das principais autoridades de Cabo-Delgado, entre os quais o Secretário de Estado e o Governador, bem como líderes comunitários e religiosos de Namáua, entre outros.

A inauguração realizou-se no âmbito do Programa PRETEP PLUS, uma iniciativa financiada pela AICS que visa apoiar a reforma da educação profissional em Moçambique. O programa conta com uma linha de crédito de 35 milhões de euros, cuja implementação está a cargo da Secretaria de Estado do Ensino Técnico-Profissional (SEETP)

O principal objetivo do programa é a formação e aumento da empregabilidade de cerca de 27 mil jovens moçambicanos, bem como a reabilitação e apetrechamento de 11 instituições de Ensino Técnico-Profissional em todo o país, entre as quais o Instituto Industrial e Comercial Engenheiro Filipe Jacinto Nyusi.

No discurso de inauguração, o Diretor da Sede da AICS Maputo, Paolo Enrico Sertoli, destacou o orgulho da “cooperação italiana em contribuir técnica e financeiramente para a transformação da Escola Secundária de Namáua em um instituto técnico de nível médio, incluindo a implementação da qualificação em Design de Interiores”. Sublinhou ainda que, através do PRETEP PLUS, foi possível capacitar tecnologicamente os formadores do instituto no Brasil, assim como adquirir equipamento e mobiliário para o instituto. Sertoli relembrou que a iniciativa está alinhada com o recentemente lançado Plano Mattei, onde a formação é um dos pilares essenciais.

Com o apoio da AICS, será também aberto um furo de água com 180 metros de profundidade, garantindo a disponibilidade de água potável para o instituto, que atualmente depende do abastecimento por camiões-cisterna. Esta iniciativa permitirá assegurar o acesso contínuo à água potável.

Cabo Delgado é uma província estratégica para a Cooperação Italiana, o que se reflete em diversas iniciativas. Um exemplo foi a visita organizada em fevereiro deste ano com o Embaixador da Itália e as agências das Nações Unidas, destinada a verificar o progresso dos projetos de emergência, financiados pela AICS. Outro destaque é o apoio ao desenvolvimento dos produtores de café do Ibo, que participaram no Primeiro Festival de Café em Moçambique, realizado com o apoio da AICS.

Essas ações ilustram o compromisso da Cooperação Italiana com o nexo entre emergência, desenvolvimento e paz , reafirmando o princípio de “não deixar ninguém para trás” (leave no one behind), mesmo nas áreas mais remotas do país. Um exemplo emblemático é a localidade de Namáua, que a partir de hoje passa a contar com um instituto técnico de excelência, contribuindo para aumentar a empregabilidade dos jovens na Província de Cabo-Delgado.