A importância do compasso

Anselmo Carlos Puzumado, 35 anos, reside no posto administrativo de Maconje, no povoado de Nandaya, distrito de Tsangano, província de Tete. Ele é casado com Maria Inácio. São pais de cinco filhos: Rita (14 anos), Venâncio (12 anos), Lucinda (7 anos), Narciso (4 anos) e Carlos (12 anos). Desde 2023, Anselmo é beneficiário do Programa DELPAZ, aprendendo técnicas de Agricultura Inteligente ao Clima.

“Agradecemos muito os técnicos do Programa DELPAZ porque trouxeram valiosas experiências e habilidades na área da agricultura. Durante os treinamentos fomos aprendendo vários procedimentos necessários para aumentar a produção e produtividade nos nossos campos, e gostaria de destacar a importância dos compassos nesta questão. Porque os compassos, você pode se perguntar? Antes da intervenção do DELPAZ cada um usava compassos inadequados, mas agora com a orientação da equipe técnica, aprendemos a respeitar e seguir os compassos adequados em função da cultura.”

“Podemos observar claramente que ao seguir as orientações conforme os ensinamentos, conseguimos identificar eventuais falhas entre as plantas e corrigi-las prontamente”, conta o senhor Anselmo. “Além disso podemos controlar pragas de forma mais eficaz sem gastar dinheiro com a compra dos químicos para o combate dos mesmos, apenas com o uso de biopesticida produzido localmente através das folhas amargas (pesticidas biológicos), pois conseguimos detectar sinais de infestação rapidamente. Outra vantagem de respeitar os espaços entre as plantas é conseguir aumentar a produção e produtividade numa área menor, garantindo maior eficiência.”

Foi com determinação e dedicação, que ele implementou as práticas aprendidas em sua própria machamba: começou assim a colher os frutos de seu trabalho árduo quando viu sua produção de milho, feijão e hortícolas aumentar significativamente. “Delpaz semeou conhecimento”, diz satisfeito.

 

Bartolomeu, o ex-guerrilheiro que vive da agricultura no “deserto”

Bartolomeu Tenesse, 58 anos, lutou por 13 anos na guerrilha da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), numa frente que tinha a missão de sustentar a guerra civil, com armamento que devia assaltar em quartéis. Foi desmobilizado duas vezes, a última em Junho de 2021 e está pela segunda vez na chamada vida civil.

O ex-guerrilheiro está a lutar agora para sustentar a sua comunidade, com a agricultura que pratica no povoado de Casado, em Tambara, um distrito de clima seco de estepe, com inverno seco e baixa precipitação anual.

O distrito de Tambara, na província de Manica, no centro de Moçambique, está a ser atingido por uma fome severa, provocada por uma seca induzida pelo fenómeno El Niño, que tem devastado colheitas. Tambara separa-se, através do rio Zambeze, com o distrito de Mgabu, no Malawi, que foi declarado estado de calamidade devido ao fenômeno.

“A fome este ano é assustadora, há famílias a se alimentar de farelo de milho, frutas e tubérculos silvestres. Outros passam dias a fio sem comer. Então se eu intensificar essa agricultura, com boa disponibilidade de água, posso enfrentar qualquer tipo de fome”, afirma Bartolomeu Tenesse, com a mão no queixo e o braço sustentado no cabo da enxada.

Bartolomeu, foi recrutado para a guerrilha aos 15 anos, em 1985, em Angónia (Tete), quando fazia uma viagem para Blantyre, em busca de emprego no Malawi, durante a guerra civil que durou 16 anos.

“O nosso carro foi interpelado, foram separados os jovens e levados para um lugar, onde pernoitamos. Ao amanhecer, ficamos surpresos ao ver que estávamos sendo controlados por homens com armas em punho. Avisaram-nos que devíamos cumprir a tarefa de trazer democracia no país”, quando foi levado para treino militar na base de Chiriza, em Angónia.

Ficou naquela base até 1987, fazendo operações na província de Tete, quando foi solicitado na base central Merece-Chamboco, na serra da Gorongosa, onde conheceu e dialogou com o líder histórico, Afonso Dhlakama.

“Saudamos o presidente (Afonso) Dhlakama, como soldados de Tete. Daí fomos divididos em grupos pequenos, e passei para Inhaminga, em Sofala. Depois engajamos em Dondo, Nhamatanda, Shemba até regressar a uma das bases na província de Tete”.

Acrescentou: “a nossa tarefa era combater e recolher o material bélico para as nossas bases, numa dessas missões de entregas de armas, fui levado novamente até ao local onde estava o presidente Afonso Dhlakama”. Foi depois reconhecido por essas missões e poucos anos depois foi alcançado o Acordo Geral de Paz (AGP), de Roma, em 1992.

Mesmo “em paz, ficávamos a sofrer, sem liberdade e nem democracia”, o que o levou a regressar às matas em 2017, a partir da base de Nhandete (Tambara), de onde choraram “amargamente” a morte de Afonso Dhlakama, em Maio de 2018, até ser desmobilizado pela segunda vez em Junho de 2021, em Barué, no âmbito do processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) – que resulta do acordo de paz de Maputo assinado em 2019.

Como a maioria dos ex-guerrilheiros da Renamo, Bartolomeu foi desmobilizado pela primeira vez em 1994, pela missão de paz das Nações Unidas em Moçambique (Onumoz).
O ex-guerrilheiro lembra que na segunda desmobilização, voltou para a aldeia de acolhimento em Tambara, com uma catana, enxada, machado, uma variedade de sementes agrícolas e uma promessa de projetos de desenvolvimento e pensão de sobrevivência.

“Disseram que viriam projetos e recebemos o programa DELPAZ. Na verdade, montou um sistema de irrigação por gravidade que estamos a usar desde o ano passado. Beneficiamos também de sementes e assistência de extensionistas do programa que esta a ajudar a aumentar muito a produção num sítio difícil de produzir, por ser uma zona seca”, explica Bartolomeu Tenesse

O ex-guerrilheiro é membro de uma das 10 associações de camponeses que recebe apoio do programa DELPAZ, que dá especial atenção à criação de oportunidades para jovens, mulheres, bem como ex-combatentes e suas famílias.

Bartolomeu e parte de sua família trabalham no Ponto Verde de Tambara, um campo de transferência de tecnologias, que assiste com tecnologias e práticas agrícolas inteligentes para o aumento da produção e produtividade das 10 associações agrícolas e da população de Tambara.

 

Debate caloroso marca diálogo de Paz em Manica

Nesta quinta-feira, 18 de Julho, o pavilhão polivalente do Instituto Agrário de Chimoio (IAC) esteve colorido, em vestes e opiniões, que marcaram o debate caloroso do diálogo da Paz, promovido no âmbito do programa DELPAZ, pela Agência Italiana de Cooperação ao Desenvolvimento (AICS).

Académicos, estudantes oriundos de várias províncias do país, comunidades atingidas por conflitos nas províncias de Sofala, Manica e Tete, além dos beneficiários do DDR e seus familiares arrolaram de forma vigorosa os caminhos para a consolidação da Paz, que se resumem no diálogo, tolerância e harmonia.

Os mais de 800 participantes do “Diálogo de Paz”, que teve como oradores Rafael Chicane, Rogério Sitoe e Chiquinho Conde (de forma remota) e, moderação de Eva Trindade, concordam que a transição para a paz é um longo processo e deve ser participado pelas várias gerações representativas das várias regiões que compõem Moçambique.

Ao inaugurar o debate, o historiador, Rafael Chicane, “Professor Shikhani”, defendeu que “a paz não é apenas a ausência do conflito”, mas o respeito pelas diferenças; religiosas, culturais e até das condições sociais de cada cidadão, considerando por isso que a inclusão enfatiza a variedade de perspetivas e experiências dos povos de cada região do país.

A sociedade que não respeita as diferenças nunca vai viver em Paz”, sublinha o também pesquisador independente, que escreve extensivamente sobre História Contemporânea de Moçambique, política e conflitos africanos.

Ao intervir no painel, Rogério Sitoe, actual Presidente do Conselho Superior da Comunicação Social (CSCS), com uma experiência de 38 anos no Jornal Notícias, de maior circulação no país, destacou haver pouco diálogo, por isso que Moçambique está numa situação de crises, com várias classes profissionais em greve e ou a convocar greve, reiterando que a intolerância continua a minar a paz no país.

“A tolerância para paz começa na forma como convivemos”, anotou Rogério Sitoe, defendendo a inclusão dos ex-guerrilheiros na construção da paz, sem os inferiorizar ou atribuir adjetivos.

Sitoe, que participa de forma ativa na Associação “Reconstruindo Esperança”, focada na reintegração de crianças-soldado, realçou que “o mais importante é prevenir o conflito, do que esperar para dialogar para Paz”.

Chiquinho Conde saudou calorosamente os participantes e contou a sua jornada como futebolista e como treinador. Despediu-se deixando esta mensagem:”A paz requer dedicação, disciplina. A paz cultiva-se!”

Os participantes, que manifestaram o orgulho de participar do debate, que refletiu a rica diversidade do país, insistiram na necessidade de haver um compromisso de estimular o crescimento da paz em Moçambique. Ao evento participaram os parceiros de DELPAZ da província de Manica e de Sofala.

Intervindo na plateia, Telma Humberto, que também é beneficiária do DELPAZ no distrito de Macossa (Manica), frisou a importância de fortalecer a harmonia social, porque, defendeu: “a paz não é só o calar das armas, mas uma convivência harmoniosa”.

A música de Djipson Mussengi animou o evento com a sua guitarra e as suas canções.

 

Cerimónia de graduação em Dôa forma novos profissionais em Electricidade e Construção

No dia 15 de outubro, a cidade de Dôa, localizada na Província de Tete, foi palco de uma cerimónia de graduação que celebrou a conclusão de 43 jovens bolseiros em cursos de Electricidade Instaladora e Pedreiros. Esses jovens, oriundos de diversas comunidades atendidas pelo programa DELPAZ, marcaram o início de uma nova fase profissional e pessoal, graças às competências adquiridas nas formações.

A cerimónia foi um momento de grande emoção, simbolizando o esforço e a dedicação dos formandos ao longo do processo de aprendizagem. Durante o evento, foram entregues kits de auto-emprego, compostos por ferramentas essenciais para que os graduados possam iniciar suas actividades profissionais com maior independência e segurança. Os kits incluem instrumentos para as áreas de electricidade e construção, dando aos formandos a base necessária para dar os primeiros passos nas suas actividades e aproveitar as oportunidades que surgirem.

A iniciativa tem como objetivo não apenas capacitar os jovens, mas também promover a autonomia financeira e o desenvolvimento comunitário nas áreas onde o programa DELPAZ actua. Através dessas formações, o programa contribui para a inclusão de jovens no mercado de trabalho, ao mesmo tempo em que fomenta o crescimento económico local.

Com a conclusão dos cursos e a entrega dos kits de trabalho, esses jovens estão agora mais preparados para enfrentar os desafios do mercado e contribuir com suas habilidades para o desenvolvimento das suas comunidades.

A cerimónia em Dôa representa um passo importante para a realização dos objectivos do programa DELPAZ, que busca, por meio da educação e capacitação, oferecer novas oportunidades de emprego e desenvolvimento pessoal a jovens de diversas localidades da Província de Tete.

Marcos Augusto: a transformação pessoal e a criação de oportunidades para jovens na sua comunidade

Marcos Augusto, com uma trajetória semelhante à de muitos jovens da sua aldeia, em Mudima, no interior noroeste de Gondola, na província de Manica, concluiu a 10ª classe de escolaridade e ficou longos anos à espera de uma oportunidade de emprego no setor público.

Faltava-lhe apenas um ano de “esperança” para o sonhado emprego no Estado – já que a idade limite de admissão é de 35 anos – quando, no início do ano, se candidatou a uma vaga de formação na área de carpintaria, numa iniciativa do DELPAZ, um programa do governo de Moçambique implementado pela Agência Italiana de Cooperação para o Desenvolvimento (AICS), que dá especial atenção à criação de oportunidades para jovens, mulheres, ex-combatentes e suas famílias.

“Candidatei-me e fui apurado nas duas fases que antecederam a formação, e, juntamente com outros formandos, fomos levados para uma capacitação que iniciou a 15 de maio de 2024, tendo eu escolhido a área de carpintaria”, explicou Marcos Augusto, que está agora a cumprir um estágio de um mês.

Realçou que a formação na área de carpintaria foi um impulso necessário para protagonizar a sua própria trajetória. Desde então, começou a escrever a sua própria história – diz Marcos Augusto – ao abraçar com dedicação a oportunidade de formação na área de carpintaria, uma arte com a qual pretende criar o seu autoemprego e ajudar a sua comunidade remota.

Da minha localidade até à vila sede de Gondola são 18 quilómetros, e para alguém viajar para fazer caixão para enterros, ou para mandar fazer janelas, portas e outros artigos, tornava-se oneroso. Daí que pensei em ser um carpinteiro da minha localidade”, argumentou.

O aprendizado na área, afirmou, foi essencial para pensar na construção de uma carreira de sucesso, que estará focada em ajudar a tirar do desemprego muitos jovens da sua aldeia, que se refugiam na criminalidade e no consumo de drogas.

“Há jovens que não estão a trabalhar, então, se eu apostar em autoemprego, com o kit a ser dado na formação e um pouco de valor, vou levar alguns jovens e empregar na minha carpintaria. Assim, esses jovens já não vão roubar nem terão vícios. Vão trabalhar na minha empresa, que pretendo que cresça”, defendeu.

A formação também proporcionou-lhe uma evolução que normalmente demoraria anos a alcançar, diz ele, observando que “já tinha uma inclinação para a carpintaria”, com base na convivência que tinha com o seu tio, que é carpinteiro.

“Gostaria que o projeto me desse material manual e eletrónico, porque o material elétrico é que faz mobília de forma mais rápida que o manual, o que ajudaria muito a atingir o meu objetivo de empregar muitos jovens da minha localidade que não estão a trabalhar”, adiantou.

Com a evolução de habilidades e confiança, Marcos Augusto agradece a oportunidade dada pelo DELPAZ e almeja que o programa alcance mais jovens das províncias atingidas pelo conflito armado.

Um total de 100 jovens já se beneficiaram de formação profissional nas áreas de carpintaria, serralharia, construção civil, mecânica e corte e costura nos cinco distritos de implementação do DELPAZ na província de Manica.

Eneida, a jovem eletricista que quer transformar a sua pacata vila com iluminação inteligente

Impulsionada com o gosto pela eletricidade, Eneida Piedade Domingos, 24 anos, ganhou inspiração para transformar com iluminação inteligente sua pacata vila no interior do distrito de Guro, após beneficiar-se do curso de eletricidade instaladora, promovida no âmbito da implementação do programa DELPAZ.

Filha de um ex-guerrilheiro da Renamo, diz que o conflito armado no seu distrito atrasou o desenvolvimento, mas também a forma de iluminação, que está desalinhada com a harmonia da luz, quando comparado com cidades evoluídas do país e do mundo.

“Essa foi a oportunidade que encontrei para me formar”, ela afirma, ressaltando que isto lhe permitiu ganhar conhecimento para tornar realidade seu sonho de ver a sua vila utilizando tecnologias na iluminação de casas e ruas. Ela destaca que, embora essa técnica já esteja sendo aplicada em outros lugares do mundo, ainda é pouco utilizada no seu distrito.

“O exemplo do uso de fotocélula nas casas, permite que o interruptor acione num determinado horário e o lugar seja iluminado sem precisar da presença humana”, além do uso de lâmpadas inteligentes controladas por aplicativos para poupar o consumo de energia nas casas, explica entusiasmada.

Enfatizou que “a formação me ajudou a ter ideias para fazer mudanças no meu distrito, como passar a usar coisas que muitas pessoas estão a usar no momento”, em cidades evoluídas.

Eneida finalizou o nível médio sem ter tido oportunidade de formação profissional, sobretudo, no ramo de eletricidade, sua paixão desde a infância e olha para a oportunidade como uma janela de mudança também para sua vida social.

“Eu sou mulher e consegui fazer o curso de eletricidade e então estou a encorajar outras mulheres para também seguirem este tipo de formação e conseguir ter emprego”, para ganhar independência económica e “não só esperar homens trabalhar”.

Insiste que a mulher deve ser ajudadora no lar e ser capaz por si só de sustentar a casa e “não apenas esperar no homem, esperar dinheiro de alguém, então ter formação é importante para conseguir sustentar a sua família”, anota, agradecendo o esforço do DELPAZ de poder dar oportunidade de formação aos jovens.

“Estou muito feliz agora, por o programa DELPAZ nos dar essa oportunidade de estudar, estou mesmo muito agradecida, pois apesar de que não foram todos os jovens formados no meu distrito formado, eu alcançarei outros jovens para ensinar e juntos conduzir a transformação para o distrito”, afirma Eneida Piedade Domingos.

Um total de 100 jovens já se beneficiaram de formação profissional nas áreas de carpintaria, serralharia, construção civil, mecânica e corte e costura nos cinco distritos de implementação do DELPAZ na província de Manica.

O programa DELPAZ dá especial atenção à criação de oportunidades para jovens, mulheres, bem como ex-combatentes e suas famílias.

Em todos os 5 distritos da província de Manica, milhares de pessoas já se beneficiaram do DELPAZ, que está a implementar projetos nas áreas de agricultura, infraestruturas e empreendedorismo, para assegurar a reintegração económica e social de todos os ex-combatentes, suas famílias e comunidades rurais atingidas pelo conflito para alcançar uma paz duradoura em Moçambique.

O programa do governo moçambicano e financiado pela União Europeia, e juntamente com UNCDF é implementado pela Agência Italiana de Cooperação para o Desenvolvimento (AICS) nas províncias de Manica e Tete, enquanto a Agência de Desenvolvimento Austríaca (ADA) em Sofala.

 

 

 

Reflexão sobre os Pontos Verdes em Manica: desafios, impacto e sustentabilidade

DELPAZ organizou um seminário de reflexão, no dia 24 de fevereiro, na Província de Manica sobre os Pontos Verdes (PV), espaços dedicados à promoção de tecnologias agrícolas sustentáveis, capacitação de agricultores e fortalecimento da segurança alimentar e da capacidade produtiva das associações, com um enfoque no mercado.

O encontro reuniu os presidentes das associações que gerem os PV, pontos focais, diretores do SDAE e a equipa técnica do projeto, num ambiente de partilha de ideias, experiências e visões para o futuro. O objetivo principal foi avaliar o impacto destes centros, identificar desafios e explorar oportunidades para garantir a sua sustentabilidade e expansão.

Os Pontos Verdes como motores de desenvolvimento rural

Os testemunhos dos participantes demonstraram o papel crucial dos PV no apoio aos agricultores locais. Quentino Suite, presidente do PV de Macossa, destacou os progressos alcançados: “O nosso PV já se tornou uma escola para os outros produtores. E se as coisas continuarem como estão agora, em breve teremos capacidade para adquirir um meio de transporte para escoar os produtos. Já temos compradores que vêm de Chemba, Marínguè e Gorongosa para os adquirir.”

Por sua vez, Isac Cerveja, presidente do PV de Báruè, sublinhou os benefícios da infraestrutura e dos investimentos feitos: “Com a capacidade de rega que temos agora, graças ao DELPAZ, podemos produzir até dois hectares de hortícolas e expandir ainda mais a nossa base de venda.”

O caminho para a sustentabilidade dos PV

O seminário marcou também o início do processo de desenho da estratégia de sustentabilidade dos PV, um passo essencial para garantir a continuidade e o crescimento destas iniciativas. Entre os aspetos discutidos, destacam-se:

  • A busca por parcerias justas, que possam apoiar e fortalecer as associações locais;
  • O apoio à formalização das associações, permitindo-lhes uma maior autonomia e acesso a novas oportunidades de financiamento e mercado;
  • O reforço das capacidades técnicas e organizacionais, para consolidar os PV como referências na agricultura sustentável da região.

Através destas iniciativas, o Programa DELPAZ reafirma o seu compromisso com o desenvolvimento rural sustentável, promovendo a resiliência dos agricultores e impulsionando a economia local. O seminário foi um passo importante para garantir que os Pontos Verdes continuem a crescer e a gerar impacto positivo nas comunidades onde operam.

Governos e população elogiam ganhos visíveis e reais com implementação do DELPAZ na província de Manica

A 6a reunião do comité provincial de coordenação do DELPAZ, realizada a 26 de Março de 2025, na vila de Guro, na província de Manica, com a participação dos parceiros e do GON, elogiou os ganhos “reais e impressionantes” com a implementação do Programa, destacando a geração de empregos e a redução da pobreza, criando assim um ambiente propício de reconciliação.

O comité, que avaliou o progresso das atividades entre Junho de 2024 a Março de 2025, realçou o sentimento de satisfação das comunidades, tendo o programa DELPAZ contribuído para a melhoria da qualidade de vida da população dos cinco distritos província de Manica onde é implementado o programa.

Entre os grandes feitos, destaca-se o aumento de produtividade agrícola, acesso á água potável, criação de oportunidades de emprego a jovens e beneficiários do DDR, acesso a infraestruturas essenciais, o que melhorou os meios de subsistência das comunidades rurais nos distritos afetados por conflitos, com especial enfoque nas mulheres e nos grupos desfavorecidos.

A adoção de tecnologias e práticas agrícolas inteligentes trouxe resultados históricos na agricultura naqueles distritos, com a produção pelas associações camponesas de 37 toneladas de tomate, 12 toneladas de couve, 11 toneladas de cebola, 10 toneladas de alface, 6 toneladas de maçaroca, 5 toneladas de feijão vulgar e igual quantidade de repolho, 4 toneladas de quiabo e a mesma quantidade de pimenta, 2 toneladas de pepino e outras de feijão verde, alem de 0.8 toneladas de cenoura.

800 produtores capacitados

Com essa produção mais de 1.400 famílias beneficiárias diretas tem dieta melhorada. Milhares de beneficiários indiretos também tiveram aumento de disponibilidade de alimentos nos distritos de Gondola, Barué, Macossa, Guro e Tambara.

Ainda na agricultura foram capacitados 886 produtores, incluindo 240 jovens agricultores e beneficiários do DDR e seus familiares, além da distribuição de mais de 20 toneladas de semente e 3500 instrumentos a camponeses em resposta ao fenómeno el-nino.

Na componente de infraestruturas, há que destacar a construção de mercado distrital de Macossa, de cinco armazéns agrícolas com duas repartições, equipados com máquinas de processamento nos distritos de Tambara, Macossa, Guro, Barué, estando de Gondola em fase de conclusão.

Foram construídos 4 sistemas de abastecimento de água movidos a energia solar em Sanhantuze (Barué), Nhauchanga (Tambara), Mwakwakwa (Gondola) e Cagole em Barué, além de fontes de água do tipo afridev em Guro e Gondola.

Igualmente foram construídos três sistemas de irrigação gota-a-gota, a base de energia solar em Guro e Macossa. Assim os camponeses trocaram a rega manual com um sistema mais sofisticado, o que esta a revolucionar a agricultura.

Foram estabelecidos 6 campos de demonstração dos resultados e 8 campos de multiplicação nos cinco distritos de Manica.

A ligação com feiras e eventos como a FACIM ampliou a visibilidade das comunidades e valorizou os seus produtos e talentos locais.

Os distritos ganharam também seis corredores de tratamento animal em Guro e Macossa e já entregues as comunidades.

Já na componente de formação 100 beneficiários foram graduados em cursos de culinária, alfaiataria, construção civil, serralharia mecânica, carpintaria e eletricidade. Mais de 30 por cento dos beneficiários são do DDR, sendo que deste número 64 são homens e 36 mulheres, alem da distribuição de 5 kits de empreendedorismo em cada distrito.

O comité provincial de coordenação de Manica, foi antecedido por uma visita de campo nos distritos de Barué, Macossa e Guro, onde foram inauguradas e entregues as comunidades dois sistemas de abastecimento de água movidos a energia solar, o mercado distrital de Macossa e três armazéns agrícolas, equipados dos respetivos equipamentos.

Entretanto, os governos locais desafiaram os empreiteiros a serem mais céleres na construção das infraestruturas.

A Agência Italiana de Cooperação para o Desenvolvimento (AICS), que implementa o DELPAZ nas províncias de Manica e Tete, em parceria com um consórcio de organizações da sociedade civil liderado da ONG Italiana Helpcode, anotou que continua comprometida nos esforços de desenvolvimento das comunidades.

Já o representante da União Europeia, que financia o Programa DELPAZ, manifestou satisfação pelos avanços na implementação do DELPAZ, frisando esperar por mais inaugurações de infraestruturas agora em construção, para ajudar na reintegração e desenvolvimento das comunidades, afastando assim os fantasmas da guerra.

A anfitriã do evento, a administradora Angelina Nguiraze, que enalteceu os resultados até agora alcançados, pediu mais sistemas de abastecimento de água a base de energia solar, para as comunidades do interior do distrito assolado por seca e sistemas de irrigação para potenciar a agricultura.

O embaixador Mário Nguenya, director do Gabinete de Ordenador Nacional de Moçambique (GON), voltou a elogiar o espirito de apropriação do programa pelos governos e líderes locais, que estão a facilitar a aceitação e sustentabilidade dos vários projetos, anotando que a extensão do DELPAZ até Dezembro de 2025 permitirá a conclusão de vários investimentos em curso.

Governos e Parceiros reafirmam compromisso com a Paz no 3° Comité de Supervisão Nacional do DELPAZ

A Agência Italiana de Cooperação para o Desenvolvimento (AICS) tem desempenhado um papel fundamental na promoção da paz e do desenvolvimento sustentável em Moçambique, especialmente nas províncias de Manica e Tete. A sua atuação insere-se no DELPAZ (Desenvolvimento Local para a Consolidação da Paz em Moçambique), um Programa do Governo de Moçambique, financiado pela União Europeia e implementada em estreita colaboração com as autoridades locais e diversos parceiros no terreno.

O 3º Comité de Supervisão Nacional do programa DELPAZ, realizado no dia 28 de março em Tete, contou com a presença do Gabinete do Ordenador Nacional (GON) do Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, membros dos governos central e provinciais de Tete, Manica e Sofala, bem como dos parceiros do programa, e também representantes do Secretariado da Paz. Durante o encontro, foi enfatizado o compromisso conjunto com a paz e o desenvolvimento, garantindo que os investimentos realizados no âmbito do DELPAZ possam continuar a melhorar a vida das comunidades beneficiárias.

Os participantes destacaram os ganhos concretos e visíveis alcançados pelo programa e sublinharam a importância de manter um compromisso com a paz para que os investimentos e estratégias em curso se tornem sustentáveis, promovendo o desenvolvimento social e económico das comunidades afetadas por conflitos.

Além disso, foi reconhecido que o DELPAZ direcionou a maior parte dos seus recursos para as comunidades mais vulneráveis, impulsionando as economias locais e criando oportunidades de emprego, inclusive para os combatentes desmobilizados e suas famílias. O programa também contribuiu significativamente para a melhoria do acesso à água potável, a geração de empregos para os jovens e a construção de infraestruturas essenciais, especialmente aquelas voltadas para práticas agrícolas mais sustentáveis.

A integração dos produtores locais aos mercados fortaleceu a economia das comunidades, valorizando os seus produtos e capacidades. Os investimentos em serviços públicos trouxeram melhorias tangíveis, como novas escolas, reabilitação de estradas, acesso à água e desenvolvimento de infraestruturas agrícolas. Paralelamente, o DELPAZ tem incentivado uma governação local mais inclusiva, capacitando os órgãos públicos para uma gestão mais eficiente e sustentável dos serviços essenciais.

Esses avanços foram destacados como elementos fundamentais para eliminar as causas dos conflitos e assegurar uma paz duradoura, beneficiando toda a sociedade moçambicana.

Visitas de campo e projetos inaugurados

Após o 3º Comité de Supervisão Nacional, realizou-se o 6° Comité de Coordenação Provincial da Província de Tete, onde se reforçou o consenso sobre os benefícios proporcionados pelo DELPAZ, tanto no desenvolvimento de infraestruturas quanto na oferta de formação profissional para os jovens e capacitação para a governação local.

As reuniões foram precedidas por uma visita de campo às províncias de Manica e Tete, durante a qual foram inaugurados diversos projetos estruturantes, entre eles:

  • Dois sistemas de abastecimento de água movidos a energia solar, em Gondola e Bàrué;
  • Mercado de Macossa;
  • Armazéns agrícolas em Macossa e Guro (Província de Manica);
  • Escola Primária de Chibaene;
  • Casa da Mulher;
  • Incubadora verde;
  • Sistema de abastecimento de água e de irrigação no distrito de Tsangano (Província de Tete).

Além disso, foram reportadas as conclusões do seminário sobre as lições aprendidas na implementação do programa, na cidade da Beira (Província de Sofala), nos dias 11 e 12 de março.

O Papel dos Parceiros da AICS em Manica e Tete

Para garantir a eficácia e a sustentabilidade do DELPAZ, a AICS trabalha em parceria com consórcios liderados por organizações experientes em desenvolvimento local e consolidação da paz. Em Manica, o consórcio é liderado pela ONG Helpcode, enquanto em Tete, a liderança cabe à ONG SavetheChildren. Essas organizações coordenam ações voltadas para a capacitação das comunidades, a criação de oportunidades econômicas e o fortalecimento das instituições locais.

O DELPAZ é financiado pela União Europeia e implementado pela Agência Italiana de Cooperação para o Desenvolvimento em Manica e Tete, pela Agência de Desenvolvimento Austríaca em Sofala, com o secretariado suportado pelo Fundo das Nações Unidas para o Desenvolvimento de Capital.

Parceria: Um Caminho para o Desenvolvimento e a Paz

A actuação da AICS em Moçambique demonstra que a parceria é um elemento-chave para o desenvolvimento sustentável e a construção da paz. A relação estabelecida com os governos locais de Manica e Tete não apenas possibilitou a implementação eficaz do DELPAZ, mas também permitiu a mobilização de novos financiamentos para projetos complementares.

Essa abordagem fortalece as capacidades locais, fomenta o envolvimento das comunidades no processo de desenvolvimento e amplia os impactos positivos da cooperação internacional, criando um futuro mais próspero, inclusivo e pacífico para Moçambique.

 

Reflexões e aspirações: as vozes dos beneficiários do DELPAZ nas províncias de Tete, Sofala e Manica

Enquanto o cenário político em Maputo discute fervorosamente a possibilidade de um Plano Nacional de Reinserção, estimulando um diálogo aprofundado entre as autoridades e a sociedade civil, um caminho para uma mudança tangível já está a ser percorrido nas províncias de Manica, Tete e Sofala. Estes passos, dados com determinação, já produziram resultados que merecem ser apoiados e podem constituir um ponto de partida sólido. No entanto, a solução não reside apenas em políticas e planos de ação, mas sobretudo na experiência directa e nas vozes autênticas dos protagonistas desta transformação.

Nos dias 21 e 22 de março, realizou-se em Maputo a Conferência Internacional sobre Reintegração Pós-Conflito, promovida pelo Instituto para a Democracia Multipartidária (IMD), sob o alto patrocínio do Ministério da Justiça, do Ministério dos Combatentes e do Secretariado para a Paz (PPS). Entre os participantes, oriundos das províncias de Tete, Sofala e Manica, destacaram-se as vozes vibrantes de Florinda, Rita, Mário, Graça, Anita, Isabel, Carménia e Carlota.

Para muitos deles, era a primeira vez que se deslocavam a Maputo e traziam consigo uma mensagem cheia de esperança e urgência: “Queremos paz”, declararam enfaticamente. “Queremos trabalhar a terra, somos camponeses. Queremos cultivar a nossa própria comida, mandar os nossos filhos para a escola. Queremos viver em paz e, para isso, precisamos da vossa ajuda”. As suas palavras ressoam com uma urgência palpável, uma vez que reflectem necessidades essenciais: acesso à água, infra-estruturas, estradas, mercados, hospitais e escolas.

As experiências relatadas durante a conferência foram comoventes e esclarecedoras. Anita, com os olhos ainda incrédulos, comentou a visão da abundância de água nos hotéis de Maputo, contrastando com a realidade da sua comunidade, onde a água é um bem precioso que só pode ser alcançado após longas viagens. Mário, impressionado com a grandiosidade e vibração da capital, agradeceu ao DELPAZ por ter levado o furo de água à sua comunidade e novas práticas agrícolas, juntamente com sementes e ferramentas, expressando a importância de alargar este tipo de projectos a todas as comunidades carenciadas.

Florinda partilhou um sentimento de gratidão e reconhecimento: “Nós não éramos nada, mas agora estamos aqui a falar e vocês estão a ouvir-nos. O DELPAZ tornou-nos visíveis”. Estes testemunhos são um reflexo tangível do trabalho realizado pela DELPAZ, também evidenciado pela distribuição da Declaração de Inhanzónia, um símbolo de solidariedade e inclusão promovido através da organização do acampamento solidário em novembro do ano passado no distrito de Báruè.

O papel das mulheres como actores e líderes locais foi particularmente enfatizado, tendo Carlota Inhamussua, colaboradora ativa do Programa DELPAZ na Província de Sofala, partilhado experiências significativas como o projecto da poupança e da caixa dos sonhos. Estas actividades visam não só disponibilizar recursos tangíveis, mas também estimular os sonhos e objectivos das comunidades envolvidas, reforçando a confiança e o sentimento de pertença das pessoas às suas comunidades.

O caminho para a paz e a prosperidade exige um compromisso colectivo e sustentado. Quando estas comunidades começam a dar os primeiros passos em direção à mudança, é crucial que não sejam deixadas sozinhas. Precisam de tempo, apoio e recursos para crescerem e continuarem a cultivar a paz nos seus territórios. Só através de um compromisso partilhado e de uma solidariedade duradoura é que se pode garantir um futuro de esperança e prosperidade para todas as comunidades moçambicanas.

Todos eles têm clamado para não serem deixados sozinhos, agora que estão a começar a ‘gatinhar’ e precisam de mais tempo e apoio para poderem ‘crescer’ e continuar a cultivar a paz nas suas comunidades.

Para isso contribui também o DELPAZ, em parceria com o IMD, implementado pelo AICS em Manica e Tete, e pela ADA em Sofala, com o apoio do UNCFD. Para além de água, infra-estruturas, vias de acesso, sementes e novas práticas agrícolas, estimula os sonhos das comunidades mais afectadas pela violência armada, onde os beneficiários do DDR voltaram a viver, juntamente com as suas famílias.

Como repetidamente expresso pelo Embaixador da UE em Moçambique, Antonino Maggiore, “Como parceiros de Moçambique, estamos plenamente conscientes dos desafios que enfrentamos em matéria de reintegração e reconciliação; […] A paz e a reconciliação só podem ser alcançadas através de uma democracia próspera e da prosperidade em benefício de todos os cidadãos moçambicanos.”