Entrevista com o Professor Albino Duvane: A Cooperação entre a AICS e a REMOTELINE para a Inclusão de Pessoas com Deficiência Auditiva em Moçambique.

Hoje celebramos o Dia Internacional da Língua de Sinais, a data visa destacar a importância das Língua de sinais na garantia dos direitos humanos de pessoas com limitações auditivas.

 Em Moçambique, de acordo com os últimos dados oficiais do Instituto Nacional de Estatística (INE) em 2017, existem 68.000 pessoas com deficiência auditiva e mutismo. As pessoas com deficiência auditiva enfrentam vários desafios, incluindo a falta de uma língua gestual universalmente reconhecida. Em todo o mundo, existem mais de 300 variedades de línguas gestuais, o que torna a comunicação mais complexa para as pessoas que crescem em diferentes regiões. Esta diversidade linguística acrescenta mais barreiras à comunicação, a par de limitações na educação inclusiva e do risco de discriminação.

Para assegurar o acesso à informação para pessoas com deficiência auditiva, a AICS tem colaborado com a empresa moçambicana REMOTELINE. Por exemplo, durante a Conferência Nacional de Educação de Qualidade em julho, seis intérpretes da REMOTELINE proporcionaram tradução em Língua de Sinais em todas as sessões. Na FACIM, a AICS contou com dois intérpretes da REMOTELINE para traduzir palestras e o discurso do Embaixador de Itália em Moçambique, Gianni Bardini, no Dia da Itália.

Para comemorar o Dia Internacional da Língua de Sinais, realizamos uma entrevista com o Professor Albino Duvane, fundador da REMOTELINE. Durante esta conversa, exploramos os desafios enfrentados pelas pessoas com deficiência auditiva em Moçambique, discutimos potenciais soluções e examinamos o papel crucial que a cooperação desempenha na promoção da inclusão dessas pessoas. Para obter mais informações, continue lendo.

AICS Sede de Maputo: Antes de mais, queria agradecer-lhe a sua disponibilidade. Como surgiu a necessidade de estudar as línguas de sinais?

Professor Albino Duvane: Uma vez, eu estava com um colega a fazer um trabalho de sensibilização sobre a malária na Província de Gaza. Numa casa encontramos uma pessoa com deficiência auditiva, como não conhecia a Língua de Sinais, não pode partilhar informação de como proteger-se desta doença. Fiquei muito frustrado por não conseguir interagir com esta pessoa e partilhar esta mensagem importante.

Isso me deixou com um sentimento de culpa e acendeu uma chama de responsabilidade social. Eu percebi que a pessoa com deficiencia auditiva não tinha culpa de não poder ouvir ou falar oralmente; a responsabilidade de ajustar a comunicação era minha. Decide aprender a Língua de Sinais.

AICS Sede de Maputo: Conte-nos então como aprendeu a língua de sinais?

Professor Albino Duvane: A minha aprendizagem teve lugar com um jovem com deficiência auditiva que esteve na minha aldeia ensinando a lingua de sinais numa convenção religiosa. Ele compartilhou alguns conhecimentos básicos comigo, mas só pôde ficar por três dias. Após isso, fiz pesquisas online para aprender mais sobre a língua de sinais americana, embora tenha tido que adaptá-la às necessidades da nossa comunidade, pois os sinais locais eram diferentes. Naquela época, não havia uma escola de língua de sinais em Maputo, foi um processo autodidata, com orientação de algumas pessoas.

AICS Sede de Maputo: Quando comecou a trabalhar para a inclusão das pessoas com deficiência auditiva?

Professor Albino Duvane: Quando vim para Maputo, comecei a auxiliar no Hospital Central de Maputo, onde uma amiga médica trabalhava. Eu ajudava na interpretação quando havia doentes com deficiencia auditiva.

Colaborei com a Associação dos Surdos e trabalhei em parceria com o FAMOD (Fórum das Associações Moçambicanas de Pessoas com Deficiência). Isso me permitiu entender melhor como as pessoas com deficiência lidam com suas dificuldades diárias, especialmente em relação à comunicação. Essa experiência criou em mim um forte senso de responsabilidade e um desejo de criar algo que pudesse ajudá-las.

AICS Sede de Maputo : Como surgiu então a ideia de fundar a REMOTELINE?

Professor Albino Duvane : Com a chegada do COVID-19 em 2020, já não podia mais ajudar presencialmente os doentes no Hospital Central de Maputo. Foi quando surgiu a ideia de prestar serviços remotamente, e assim nasceu a “RemoteLine”. A plataforma foi criada para continuar apoiando pessoas com deficiência auditiva, mesmo no contexto da COVID e de forma remota.

AICS Sede de Maputo: Durante quase três anos de existência, quais foram os sucessos da empresa?

Professor Albino Duvane: Fizemos um trabalho de advocacia e sensibilização com a Assembleia da República, solicitando que todas as sessões plenárias que passassem na Televisão tivessem interpretação em lingua de sinais. Desde 2021 que isso acontece, oque foi um grande êxito. Colaboramos também com a Embaixada dos Estados-Unidos da América, ensinando a todo o staff a linguagem de sinais, incluindo o Embaixador. Por último referir que a FAMOD, além de ser o nosso parceiro, é também cliente.

AICS Sede de Maputo: Oque significa para a REMOTELINE e para si colaborar com a Cooperação Italiana? Como avalia a colaboração com a AICS no âmbito da FACIM e da Conferência Nacional de Educação de Qualidade ? 

Professor Albino Duvane: É uma grande honra trabalhar com a Cooperação Italiana. A Itália é um grande exemplo  na inclusão de pessoas com deficiência. Trabalhar com vocês proporciona oportunidades de melhoria das nossas intervenções em prol das pessoas com deficiência auditiva.  É também uma oportunidade para dar continuidade aos nossos projectos.

No que diz respeito à segunda pergunta, trabalhar em ambos os eventos foi de extrema importância. Os nossos intérpretes conseguiram realizar traduções simultâneas em Língua de Sinais para todas as conferências e mesas redondas da Conferência Nacional de Educação, cumprindo assim o lema do evento “Por uma Educação de Qualidade, Inclusiva e Equitativa em Prol do Desenvolvimento Sustentável’.

Além disso, foi uma grande honra participar na FACIM. Uma das nossas intérpretes sentiu-se profundamente honrada por realizar a tradução simultânea da intervenção do Embaixador da Itália em Moçambique, Gianni Bardini, no dia de Itália. Participar da FACIM também nos proporcionou a oportunidade de interagir com diversas entidades e apresentar a REMOTELINE, com o objetivo de promover a inclusão das pessoas com deficiência auditiva em Moçambique

AICS Sede de Maputo : Quais são as principais barreiras que as pessoas com deficiência auditiva enfrentam em Moçambique ?

Professor Albino Duvane: A questão da educação tem sido uma grande barreira para as pessoas com deficiência auditiva, principalmente no uso das línguas de sinais

O maior desafio enfrentado pelos surdos é quando não há língua de sinais disponíveis. Se eles forem a um hospital sem um intérprete, o diagnóstico e tratamento adequados se tornam problemáticos. Tudo se resume à questão da comunicação. A chave para superar essas dificuldades é garantir o acesso à língua de sinais em todos os serviços prestados.

AICS Sede de Maputo: Qual é a importância de ter datas, como o Dia Internacional da Língua de Sinais ?

Professor Albino Duvane: Estas datas são essenciais para refletir sobre a necessidade de apoio às pessoas com deficiência auditiva, lembrando que, apesar dos avanços sociais, ainda existem pessoas que precisam de atenção devido à negligência das suas necessidades de comunicação. Resumindo, estas datas são oportunidades para sensibilizar e lembrar a todos sobre a importância de apoiar as pessoas com deficiência auditiva.

 

 

 

 

 

 

 

Um novo escritório para a AICS em Moçambique: Inaugurado o escritório em Chimoio

Inaugurazione ufficio chimoio

Sexta-feira, 20 de Janeiro de 2023, foi inaugurado um novo escritorio de programas da Agência Italiana de Cooperação para o Desenvolvimento (AICS) na cidade de Chimoio (Província de Manica).

Na presença da Governadora da Província de Manica, Francisca Domingos Tomás, do Embaixador da Itália em Moçambique, Gianni Bardini, e do Titular da Sede AICS Maputo, Paolo Enrico Sertoli, o novo escritório foi apresentado à população e às autoridades locais.

A Província de Manica é de grande importância para a Sede AICS Maputo, que ao longo dos anos tem estabelecido uma forte rede de relações e programas na zona. De facto, o novo escritório de programas tornar-se-á o centro logístico de dois importantes programas, agora nas suas fases iniciais:

AID. 12300 – DELPAZ – Desenvolvimento Local para a Consolidação da Paz em Moçambique, é um programa do governo moçambicano financiado pela União Europeia com o objectivo de contribuir para a consolidação da paz a nível subnacional em Moçambique. O programa funciona actualmente em 14 distritos nas províncias de Manica, Tete e Sofala, onde são realizadas actividades para reforçar as instituições locais, beneficiando a população que mais sofreu com as consequências do conflito.

AID. 12248 – AS MULHERES NO SUSTENTA, que visa promover o desenvolvimento rural e a criação de emprego nas zonas rurais da Província de Manica através do apoio ao Programa MADER 2020-2024 e à iniciativa SUSTENTA, com enfoque nas mulheres produtoras.

Para além destes dois programas, AICS já está presente em Manica com outros projectos importantes que já estão bem estabelecidos, pelo que encontrará uma nova base no novo escritório da AICS em Chimoio. Em particular:

A iniciativa AID 11671 “Melhoramento do desenvolvimento inclusivo e sustentável das cadeias de abastecimento agrícola, incluindo o típico café Ibo”, em colaboração com a UNIDO, com o objectivo de aumentar a geração de rendimentos para pequenos produtores em Cabo Delgado e Manica, através da promoção de cadeias de abastecimento inclusivas e sustentáveis nos sectores das frutas e legumes e do café.

A iniciativa AID 9021 “Programa de Apoio ao Desenvolvimento Rural (PADR) nas Províncias de Manica e Sofala”, lançada em 2010, implementada por MADER através do Fundo de Fomento Agrário e Extensão Rural (FAR, FP) com o objectivo de melhorar o rendimento e as condições sociais das populações rurais nas Províncias de Manica e Sofala.

A cerimónia de inauguração do novo escritório de programas foi também uma ocasião para entregar quatro camiões de cinco toneladas e quatro motorizadas para o potenciamento dos serviços agrícolas locais, adquiridos ao abrigo do programa AID. 9021 – PADR.

 

No final da cerimónia, o Embaixador italiano Gianni Bardini e o Titular da Sede Paolo Enrico Sertoli tiveram a oportunidade de visitar os distritos de Vanduzi e Macate, onde puderam falar com os beneficiários dos programas financiados pela AICS e ver os resultados alcançados até à data nas áreas de intervenção.

 

 

 

 

 

Inauguração Centro de Saúde de Namaacha  

Foi inaugurado na quarta-feira o Centro de Saúde da Naamacha, depois das obras de reabilitação, resultado da da parceria activa entre as autoridades moçambicanas e aos fundos da Agência Italiana de Cooperacao para o Desenvolvimento (AICS).

A cerimónia contou com a presença do Governador da Província de Maputo, José Júlio Parruque, a Administradora do Distrito de Namaacha, Suzete Alberto Dança, o Director dos serviços distritais da Saúde, Nelson Silva, as Autoridades locais, os profissionais da saúde, os beneficiários desta obra, e o director do Gabinete de Maputo da Agência Italiana de Cooperação para o Desenvolvimento, Paolo Enrico Sertoli.

Regeneração urbana, qualidade do espaço público e participação dos cidadãos: no Chamanculo C a visita do Munícipio de Reggio Emilia

A delegação do Município de Reggio Emilia concluiu a sua visita a Moçambique com uma visita ao bairro Chamanculo C em Maputo, onde a Agência Italiana de Cooperação para o Desenvolvimento está a apoiar o Governo de Moçambique tanto na concepção como na implementação de intervenções para restaurar os principais serviços básicos.

A delegação de Reggio Emilia, liderada pelo Presidente da Câmara Luca Vecchi e pela Sra. Bruna Ganapini Soncini, visitou o Jardim de Infância “Mamanas de Chamanculo”, actualmente frequentado por 22 crianças, que estão a realizar trabalhos de reabilitação e adaptação, bem como cursos de formação para gestão de jardins de infância e cursos de profissionalização para o ensino primário.

Houve grande emoção quando um pequeno grupo de crianças disse os slogans contra a violência, “Abaixo a violência doméstica”, e a favor da fraternidade, “Os olhos de cada criança devem ver nos olhos da outra criança o seu irmão”.

Após um breve passeio pelas vielas do bairro, que estão a ser ampliadas, juntamente com o Director da AIC de Maputo, Paolo Enrico Sertoli, e o Embaixador de Itália, Gianni Bardini, a delegação foi recebida pelas autoridades do Conselho Municipal de Maputo – em particular pela Directora do Gabinete de Desenvolvimento Urbano, pela Directora Adjunta da Direcção Municipal de Acção Social, e o Vereador do Distrito de NhamanKulu – no Centro Comunitário Chamanculo C.
Também é o objecto do “RIGENERA”, o programa que, para além das infra-estruturas urbanas, promove o desenvolvimento económico e a protecção ambiental no bairro com o envolvimento participativo dos cidadãos, financiado pela AICS e implementado pela AVSI, a Fundação E35, o Município de Milão e o Município de Reggio Emilia.

Regeneração urbana, qualidade do espaço público e participação dos cidadãos são as palavras-chave do programa RIGENERA. Na Agenda da Cooperação Italiana em Moçambique, o desenvolvimento urbano tornou-se um dos sectores prioritários da última década”, disse Paolo Enrico Sertoli, “Os resultados obtidos até agora são significativos e encorajam-nos a continuar nesta direcção.
E como disse o presidente da câmara de Reggio Emilia, “em poucos quilómetros e num curto espaço de tempo, cobrimos os tópicos que são fundamentais para o desenvolvimento sustentável e que nos devem guiar para uma visão mais humana das cidades.
“Fiquei muito satisfeita pelo modelo utilizado ser participativo”, comentou a Sra. Bruna, uma figura histórica na amizade que liga Reggio Emilia a Moçambique. “Só com a participação dos cidadãos, tanto em Maputo como em Reggio Emilia, podemos pensar no desenvolvimento sustentável e humano”.

Itália e Moçambique: uma longa história de amizade num website dedicado

O Cine-Teatro Scala, em Maputo, viveu momentos de grande emoção na cerimónia de lançamento do website dedicado à amizade entre Moçambique e Itália, quando o Prof. Doutor Brazão Mazula recordou as etapas da longa história que liga os dois Países.

Uma história feita de amizade, solidariedade e cooperação “dinámica, fléxivel e realista”, nas palavras do antigo Reitor da Universidade “Eduardo Mondlane”.

Brazão Mazula recordou também as conversas que manteve com o antigo Embaixador de Itália em Maputo, Manfredo Incisa di Camerana, aquando das negociações que levaram ao Acordo Geral de Paz bem como a dispobilidade manifestada por um outro Embaixador de Itália em Maputo, Ugo de Mohr, que se disponilbizou para a reabilitação da Fortaleza de Maputo, “hoje um ponto turístico importante para a capital do País”, e de todos os acordos técnicos e culturais que Itália assinou com Moçambique no âmbito da cooperação universitária.

O Embaixador Gianni Bardini explicou como surgiu a ideia de um website dedicado à história da amizade entre Itália e Moçambique,  como “a ideia nasceu de uma conversa com Oscar Monteiro sobre o tema da memória: a intensa cooperação e amizade que tem ligado Itália e Moçambique desde antes da independência merece um espaço a ser cultivado e salvaguardado, especialmente este ano com o trigésimo aniversário do Acordo de Roma”.

O objetivo do website é criar um lugar virtual de referência onde documentos e materiais relacionados com a história das relações italo-moçambicanas possam convergir. Como observou o Embaixador Bardini, “Moçambique tem uma população muito jovem, enquanto alguns dos protagonistas desta amizade, como o antigo Embaixador Incisa di Camerana, já não estão connosco. Por isso, é importante preservar – também em benefício das gerações futuras – a memória de como a Itália e Moçambique cooperaram nos mais variados campos para construir as instituições do jovem e nascente Estado nacional Moçambicano”.

O website – disponível gratuitamente no link: https://italomozhistoria.com  configura-se como um arquivo digital que recolhe material documentário, impressão, material fotográfico e testemunhos desta rica tradição de encontros e cooperação entre os dois países, com o objetivo de impedir que esta memória se perca, também em benefício das gerações futuras. O arquivo estará aberto ao contributo de todos aqueles que foram protagonistas desta viagem comum, que podem contactar a Embaixada para reportar documentos na sua posse para serem incluídos no site.

 

Agricultura Urbana nas zonas verdes de Maputo: um desafio importante

A 4 edição do “Dia de Campo” da Agricultura urbana, organizado pelo Conselho Municipal de Maputo, foi a ocasião para o staff da Agência Italiana de Cooperação para o Desenvolvimento (AICS) apreciar as iniciaitvas em curso do Projecto AGRI-URB (AID 12270/01/1), implementado pela WeWorld- GCV e Fondazione AVSI.

Em particular, o director da Sede AICS de Maputo, Paolo Enrico Sertoli, viu de perto as machambas de algumas associações de camponeses que trabalham na zona verde da capital moçambicana, que são beneficiárias do projecto AGRI-URB financiado pela AICS.

Bem interessante foi a demonstração do processo de produção de biopesticida com várias plantas, tais como folhas de papaia, de piri-piri, de folhas de moringa etc. levada a cabo pela Associação Djaulane, que está a ser apoiada pelo projecto. Os produtores tiveram formações para o melhoramento do trabalho de compostagem e de biofertilizante.

O staff da AICS apreciou o sistema de irrigação, na machamba da Associação Graça Machel, que pretende ser reabilitado pelo projecto AGRIURB para melhorar o sistema de irrigação existente bem como a experimentação da Lona Biodegradavél, da Associação Massacre de Mbuzini.

“Ao encorajar a promoção de empreendimentos agro-ecológicos haverá não só um impacto positivo nos rendimentos nas zonas verdes da capital e um aumento da produção alimentar sustentável para os merca dos locais – comentou o director da AICS Maputo –  mas também mudanças tangíveis numa consciência crescente da ligação entre produção e saúde nutricional e um reforço das capacidades de planeamento em resposta aos desafios globais”.

Ao “dia de Campo” participaram estudantes em várias faculdades de agronomia da capital do País juntos no lema “por uma agricultura urbana resiliente” para se inteirarem das actividades em curso em agro-ecologia nas zonas verdes de Maputo – que sofrem uma redução continua devido ao aumento da construção.

 

 

BioforMoz: a parceria do conhecimento

Parceria do conhecimento. Esta é a abordagem da Agência Italiana de Cooperação para o Desenvolvimento (AICS), que se concentra na propriedade local desde a concepção até à implementação da investigação, com as universidades italianas no papel de tutor e de assistência técnica.

Contamos as histórias dos investigadores moçambicanos que ganharam bolsas de estudo para os seus projectos no âmbito da BioForMoz “Apoio à Investigação Ambiental” (AID 12089).

Conhecer e compreender para prevenir e educar

Hemoglobinopatias são anomalias de origem genética que ocorrem nos genes que codificam a hemoglobina, levando a alterações na sua estrutura ou produção.

A anemia falciforme e a talassemia alfa (no cromossoma 16) e beta (no cromossoma 11) são as hemoglobinopatias mais comuns em todo o mundo.

Estima-se que cerca de 5% da população mundial é portadora dos genes responsáveis por estas hemoglobinopatias e que entre 300.000 e 500.000 crianças nascem todos os anos com graves variantes destas doenças.

A África Subsaariana é considerada o segundo maior centro de hemoglobinopatias.

Raquelina Ferreira é a principal investigadora do projecto “Perfil das hemoglobinopatias em crianças em Maputo, Beira e Nampula”.

“O controlo das hemoglobinopatias baseia-se no rastreio dos portadores na população e seus cônjuges, no aconselhamento genético para casais em risco e no diagnóstico pré-natal, numa tentativa de prevenir e controlar o número de novos casos, com quadros clínicos mais severos e melhorar as hipóteses de sobrevivência dos indivíduos afectados”, explica a Dra. Raquelina, que trabalha numa equipa supervisionada pelos Drs. Francisco Cucca da Universidade de Sassari e Luis Madeira da Universidade Eduardo Mondlane (UEM).

Este estudo permitirá a disponibilidade de protocolos para a detecção de portadores nos sistemas de saúde, bem como a prestação de informação adequada à população sobre esta doença, combinada com a formação e sensibilização dos profissionais de saúde sobre esta questão, a fim de intervir atempadamente, fazer diagnósticos mais precisos e prescrever a terapia necessária sem negligenciar o acompanhamento dos pacientes ao longo do tempo e reduzir o número de nascimentos afectados e, no caso de doença falciforme, reduzir a morbilidade e mortalidade infantil.

Contribuem para a investigação Maristella Pitzalis do Instituto de Investigação Genética e Biomédica (IRGB), Susanna Barella do Centro de Referência para Anemias Raras e Dismetabolismos do Ferro (pediátrico e adulto) e Hematologia Não-Oncológica Pediátrica do Hospital de Brotzu na Sardenha, Denise Brito do Centro de Biotecnologia da UEM, Juliana Ruth Argentina Mutchamua do Laboratório Clínico do Hospital Central de Maputo (HCM).

 

Sem diversidade genética, a biodiversidade poderia perder-se

15 de Abril – a data de nascimento de Leonardo da Vinci – é o Dia da Investigação Italiana no Mundo. O Ministério dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação Internacional (MAECI) está a organizar o Dia da Investigação Italiana no Mundo para celebrar os investigadores e académicos italianos no estrangeiro.

Hoje é o seu dia, criado para lhes agradecer e para lhes dar provas visíveis de que o país, embora distante, está perto deles.

Giulia Gentile, zoóloga licenciada em EcoBiologia pela Universidade Sapienza de Roma, trabalha actualmente no Museu de História Natural de Maputo. Nos laboratórios de genética do Museu, utiliza técnicas moleculares com o objectivo de obter uma imagem geral da estrutura genética da população do búfalo africano em Moçambique.

O estudo da variabilidade genética, dentro das populações, fornece informações importantes sobre a “saúde” da população e, portanto, sobre o seu estado de conservação. O búfalo africano, que ocupava historicamente grande parte da África subsariana, está agora confinado a uma manta de retalhos de áreas protegidas pouco ligadas.

Em Moçambique em particular, as populações de búfalos diminuíram drasticamente nos últimos cinquenta anos, tanto dentro como fora das áreas protegidas.

É neste contexto que o projecto de investigação “Genética populacional e demografia histórica do búfalo africano (Syncerus caffer) em Moçambique: implicações de conservação e gestão” está a ser levado a cabo, com a assistência do Dr. ssa Giulia Gentile da Universidade “La Sapienza” de Roma como parte de uma equipa conjunta moçambicano-italiana de investigação constituída pelo Dr. Carlos Bento do MHN UEM, a Dra. Simone Sabatelli da Universidade “La Sapienza” de Roma, o Dr. Paolo Colangelo do Conselho Nacional de Investigação (CNR) e a Dra. Elisa Taviani da Universidade de Génova.

 

 

AICS saúda as mulheres pesquisadoras

7 de Abril é o Dia da Mulher em Moçambique. Esta ocasião comemora o aniversário da morte de Josina Machel (1945-1971), combatente da liberdade e heroína nacional de Moçambique.

A Agência Italiana de Cooperação para o Desenvolvimento (AICS) saúda todas as mulheres moçambicanas, destacando o seu importante papel também na investigação científica, tal como a Dra. Lucinda De Araújo, licenciada em Medicina Veterinária e Mestre em Biotecnologia, é actualmente chefe do Departamento de Epidemiologia e Diagnóstico Molecular do Centro de Biotecnologia da UEM (CB-UEM).

A Dra. Lucinda está envolvida na investigação nas províncias de Maputo e Gaza sobre a febre do Vale do Rift, uma doença viral sobre a qual se sabe muito pouco. A doença afecta os ruminantes (ovinos, bovinos, caprinos, etc.) e os humanos. Pode ser transmitido aos seres humanos através do contacto com material animal infectado e também através da picada de mosquitos infectados.

A investigação, financiada por uma bolsa da AICS através do projecto BioForMoz, visa criar uma técnica para diagnosticar a doença utilizando proteínas recombinantes, permitindo testes de diagnóstico disponíveis localmente, facilmente acessíveis e baratos.

A Dra. Lucinda trabalha em colaboração com o Istituto Zooprofilattico Sperimentale d’Abruzzo (IZSAM).

Vale a pena mencionar que a febre do Vale do Rift é listada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma doença prioritária, capaz de causar epidemias futuras. A infecção causa febre, dores de cabeça, mialgia e alterações hepáticas; a febre hemorrágica pode ocorrer em 2% dos casos. O último surto registado em Moçambique foi em 2014.

Escherichia coli, o inimigo em casa

A Escherichia coli é um importante habitante comum do tracto intestinal de humanos e animais. A maioria das estirpes são inofensivas e consideradas comensal, no entanto algumas são conhecidas por possuírem várias características, incluindo a capacidade de serem reservatórios de factores de virulência, o que as torna capazes de causar doenças.

Em Moçambique, a informação existente sobre estirpes de E. coli em animais e o seu perfil de resistência aos antibióticos é relativamente escassa.

Vanessa Alexandra Comé da Graça, que trabalha no Departamento de Diagnóstico Molecular e Epidemiologia do Centro de Biotecnologia da Universidade Eduardo Mondlane, está a trabalhar no projecto “Caracterização do perfil de resistência antimicrobiana de estirpes de Escherichia coli isoladas em animais domésticos que vivem perto de áreas de conservação”.

O objectivo é isolar as estirpes de E. coli que circulam em ruminantes domésticos de áreas próximas das áreas de conservação e estudar o seu perfil de resistência aos antibióticos.

???e? Serão recolhidas amostras de fezes de 50 bovinos domésticos seleccionados aleatoriamente de 10 agricultores localizados em redor do Parque Nacional de Maputo, em Maio e Setembro do ano em curso. Após a colheita, as amostras serão inoculadas em água peptone e depois cultivadas em meios diferenciais.

Posteriormente, serão submetidos a extracção de ADN e o ADN resultante será então utilizado no teste de reacção em cadeia da polimerase (PCR) para confirmação da presença de genes de resistência. Os testes de susceptibilidade aos antibióticos também serão realizados utilizando o método de difusão do ágar.

Os resultados deste estudo permitirão conhecer o perfil de resistência antimicrobiana da E. coli em animais domésticos que vivem na periferia das áreas de conservação, contribuindo para a protecção da saúde pública através da utilização racional de antibióticos na prática veterinária. Vanessa da Graça trabalha com a Professora Elisa Tavani da Universidade de Génova, Itália.

Água tratada contém hormonas? Levar a sério os poluidores emergentes!

Os rios e efluentes urbanos recebem um vasto espectro de compostos químicos, tais como pesticidas, medicamentos, hormonas, produtos de cuidados pessoais, entre outros, que são parcialmente removidos durante os processos de tratamento (em estações de tratamento de água e águas residuais) e/ou descarregados nos rios.

Contudo, nem mesmo as tecnologias mais avançadas são capazes de as eliminar completamente, pelo que acabam por estar presentes nas nossas torneiras.

Além disso, já se sabe mais sobre os efeitos reais de contaminantes, tais como as hormonas, que prejudicam a vida aquática e humana. Temos de levar a sério estes ‘poluentes emergentes’!

Joelma Leão Buchir, investigadora do Centro de Biotecnologia da Universidade Eduardo Mondlane, está a recolher informação sobre contaminantes, em particular contaminação aquática por compostos estrogénicos, para avaliar a presença de compostos emergentes nas águas superficiais e residuais ao longo dos rios em Maputo, Moçambique.

O projecto “Poluição Ambiental por Pesticidas nos Rios” visa avaliar o nível de poluição ambiental dos rios por contaminantes emergentes e o nível de exposição das populações aquáticas; estabelecer instalações laboratoriais no Centro de Biotecnologia da Universidade Eduardo Mondlane para apoiar os sistemas de monitorização ambiental do país; aumentar a sensibilização nacional para a poluição ambiental e questões de biossegurança; e motivar melhorias na gestão da água e na vigilância de poluentes.

Joelma Leão Buchir, licenciada em Medicina Veterinária, Mestrado em Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia e Doutoramento em Biologia Celular e Molecular, colabora com o Prof. Mauro Colombo, da Universidade Sapienza de Roma, Departamento de Biologia e Biotecnologia ‘Charles Darwin’.

Para um maior controlo contra a mosca tse-tse

A tripanosomose animal africana é o maior obstáculo ao desenvolvimento da pecuária em Moçambique. A doença é causada por protozoários do género Trypanosoma e transmitida pela mosca tsé-tsé, que infesta 60% do território do país.

As medidas tomadas até agora não foram inteiramente satisfatórias devido ao desenvolvimento da resistência aos medicamentos e aos elevados custos.

Hermógenes Neves Mucache, da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Eduardo Mondlane, está a trabalhar no distrito de Matutuine na província de Maputo para explorar alternativas inovadoras, sustentáveis e economicamente viáveis para que os pequenos e médios agricultores possam beneficiar.

O projecto é o ‘Estudo longitudinal para avaliar estratégias para o controlo integrado da tripanosomose domesticada de animais selvagens no Parque Nacional de Maputo’.

Hermogénes Neves Mucache trabalha com Cesare Cammà, do Istituto Zooprofilattico Sperimentale Abruzzo e Molise ‘G. Caporale’ Teramo’.

O seu objectivo é avaliar novas abordagens e ferramentas inovadoras para controlar a tripanosomose, em particular a utilização de uma estratégia de controlo integrado.

Como? Combinando a utilização de dispositivos impregnados de insecticidas; tratamento selectivo de animais com tripanossomose; pulverização de gado com deltametrina; e desparasitação estratégica contra helmintos em manadas localizadas na zona tampão e dentro do Parque Nacional de Maputo.

No final deste projecto, espera-se que os dados gerados possam fornecer novas ferramentas de controlo e assim contribuir para aumentar a produção e produtividade do gado no país, especialmente em áreas infestadas pela mosca tsé-tsé-tsé.

 

Em defesa do milho

O milho é uma cultura importante e essencial para a segurança alimentar na África Subsaariana. Em Moçambique, a cultura é a segunda mais produzida depois da mandioca, sendo principalmente produzida nas regiões centro e norte do país.

No entanto, a nível continental, a produção diminuiu devido a vários factores, incluindo tensões bióticas, dos quais podemos destacar a ocorrência da doença chamada doença de desidratação por necrose letal do milho (MLND), que pode levar a perdas até 100%, seguindo o exemplo de países como o Quénia, Tanzânia e Uganda.

O MLND é causado pela co-infecção do Maize chlorotic mottle virus (MCMV) e do Sugarcane mosaic virus (SCMV). Sendo uma doença devastadora, a presença do MLND na Tanzânia, um país vizinho de Moçambique, indica uma potencial ameaça à segurança alimentar. Por conseguinte, é importante reforçar o sistema nacional de quarentena e vigilância sanitária, com fortes ferramentas para a detecção e caracterização precisas do MLND e vírus relacionados, a fim de contribuir para a segurança alimentar do país.

Marilia Orlanda Marta Mazivele Titoce, do Centro de Biotecnologia da Universidade Eduardo Mondlane, está a trabalhar para o seu doutoramento no projecto “Estabelecimento de técnicas de diagnóstico para a detecção da necrose letal do milho (MLND) e vírus relacionados no Centro e Norte de Moçambique”, sob a supervisão de Massimo Turina, Conselho Nacional de Investigação, Instituto para a Sede Institucional de Protecção Vegetal Sustentável em Turim.

O objectivo é defender o milho, contribuindo para o diagnóstico do MLN e vírus relacionados (MCMV e SCMV), através do estabelecimento de técnicas de diagnóstico molecular e serológico do MLN e vírus relacionados e sua caracterização molecular, a fim de dar uma resposta rápida a casos de presença de vírus no país e com base na análise filogenética é possível identificar estirpes em circulação.

Caça à cólera

A cólera é uma doença diarreica causada pela bactéria Vibrio cholerae com um elevado potencial para causar epidemias. Em Moçambique, como em vários países da África Austral, a cólera é endémica e foi detectada pela primeira vez em 1970.

Embora seja conhecido como um patogéneo humano transmitido através da ingestão de alimentos ou água contaminados, V. cholerae faz parte da flora natural do ambiente aquático e pode sobreviver em reservatórios aquáticos de várias formas e associado ao zooplâncton, copépodes ou outros hospedeiros aquáticos naturais ou através da formação de biofilmes que lhe conferem uma maior resistência a factores de stress ambiental.

O papel do ambiente aquático na evolução das estirpes epidémicas de V. cholerae é ainda uma questão em aberto, em particular a existência de reservatórios ambientais aquáticos persistentes para V. cholerae O1 e a forma como estes influenciam a epidemiologia da doença ainda são debatidos.

Amélia Halila Mondlane Milisse, investigadora do Centro de Biotecnologia da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), está a realizar investigação sobre a “Evolução genómica de Vibrio cholerae no ambiente aquático das áreas afectadas pelo Ciclone IDAI em Moçambique”.

Uma investigação cujos resultados esperados irão também actualizar as autoridades locais, nacionais e globais no palco e distribuição da cólera nos ecossistemas aquáticos, uma vez que há falta de dados sobre a presença destes agentes patogénicos nas águas de Moçambique, subsidiando possíveis acções de vigilância sanitária.

A investigação – conduzida em colaboração com a Universidade de Génova e o Instituto Nacional de Saúde – Moçambique – visa avaliar a presença de V. cholerae O1 no ambiente aquático de uma área fortemente afectada por uma epidemia de cólera após o ciclone IDAI, e investigar a relação com a V. cholerae O1 não epidémica isolada do mesmo ambiente, a fim de clarificar a possibilidade de a estirpe epidémica ter persistido e presumivelmente evoluído no ambiente aquático.

Para este fim, serão utilizados métodos microbiológicos e moleculares (PCR em tempo real, sequenciação do genoma inteiro) para a identificação de estirpes de V. cholerae O1 e não O1. As sequências de estirpes isoladas em bases de dados de surtos anteriores no Instituto Nacional de Saúde serão incluídas no estudo para determinar a sua relação com as estirpes ambientais isoladas após o IDAI.

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Carlos Bento é investigador no Museu de História Natural da Universidade “Eduardo Mondlane” e trabalha em aspectos de conservação da biodiversidade, especialmente de vertebrados terrestres.

Actualmente trabalha na biogeografia da fauna terrestre em Moçambique , tendo em conta a genética das espécies envolvidas. Esta abordagem visa apoiar os diversos programas de repovoamento em curso e envolver espécies que sofreram uma diminuição drástica das suas populações causada pela guerra civil, que afectou o país por cerca de 16 anos.

O projecto aprovado é referente à “Genética populacional e demografia histórica do búfalo africano (Syncerus caffer) em Moçambique: implicações de conservação e gestão”. O objectivo fundamental do projecto é compreender a diversidade e distribuição genética das diferentes populações do Búfalo Africano em Moçambique.).

O estudo convencional da genética de búfalos e outros mamíferos terrestres envolve a coleta da amostra por meio da extração de sangue ou tecido. Este método é extremamente caro, pois envolve a compra de drogas, dart gun para imobilizar os animais, aluguer de helicóptero e outros custos adicionais.

Para contornar esse impasse, em Moçambique está-se a testar o método não invasivo para isolar o DNA de búfalos africanos das fezes.

Esse método também tem seus desafios, pois conta com a experiência do pesquisador ou coletor em identificar com precisão as fezes, garantindo que estejam frescas, pois a insolação degenera o DNA, e também a necessidade de garantir um sistema de frio para manter a qualidade das amostras até seu transporte para o laboratório. No entanto, não há dúvida de que este método é menos dispendioso e as fezes podem ser encontradas seguindo as pegadas do animal sem grande custo monetário.

Esse estudo genético é fundamental porque orientará o país no processo de translocação de animais, seguindo os requisitos que garantem a preservação da integridade genética das populações.

Carlos Bento trabalha em colaboração com a Universidade de Roma “La Sapienza” e o Instituto de Pesquisa em Ecossistemas Terrestres.

 

 

O projecto SALSA chegou ao fim, muitos foram os beneficiários

Numa cerimónia bastante concorrida, no passado dia 29 de setembro, na cidade da Beira, foi feito o encerramento do projecto  “SALSA”, realizado pela ONG Italiana CEFA com a Direcção Provincial de Agricultura e Segurança Alimentar (DPASA), a União Provincial dos camponeses de Sofala (UPCS) e muitos outros parceiros italianos e moçambicanos.

Paolo Enrico Sertoli, director da AICS Maputo, disse que o encerramento deste projecto marca o resultado dos esforços de muitos actores do sector da agricultura e do desenvolvimento rural, o qual constitui não só uma prioridade da estratégia de desenvolvimento do Governo de Moçambique, mas também um dos sectores centrais da ação do sistema de cooperação italiano neste País.

O director recordou como desde os anos ‘80, a Itália tem apoiado importantes intervenções no sector da agricultura e do desenvolvimento rural, primariamente com investimentos em grandes obras infraestruturais (as barragens Pequenos Libombos e Corumana) no sul do País; agora, as actividades concentram-se principalmente nas Províncias centrais, e se enfocam maioritariamente no apoio integrado ao agronegócio no sector das hortícolas e da fruta.

Falando da filosofia que sustenta as acções de cooperação italiana, o director da AICS Maputo disse que a promoção da diversificação produtiva e o apoio ao longo de toda a cadeia de valor é particularmente importante em Moçambique, tanto para garantir a segurança alimentar das famílias como para aumentar o rendimento das mesmas.

“A AICS intervém neste sector através de uma abordagem participativa e inclusiva que permite, juntamente com as contrapartes locais, identificar necessidades específicas, com ênfase no aumento da capacidade das instituições envolvidas, facilitando a construção de infra-estruturas de irrigação, promovendo o investimento privado e serviços financeiros, apoiando a criação e funcionamento de associações e cooperativas, ajudando a aumentar o valor acrescentado dos produtos agrícolas locais e promovendo a sua comercialização. Isto é feito também através de programas realizados pelas ONGs italianas em conjunto com parceiros moçambicanos”, salientou.

“A Cooperação Italiana acredita nas parcerias como instrumento crucial de desenvolvimento sustentável: no caso da iniciativa “SALSA”, desde 2018 a ONG italiana CEFA, junto com a Direcção Provincial de Agricultura e Segurança Alimentar, a União Provincial do Camponeses de Sofala, a FDC, a Coopermondo, o Istituto Zooprofilattico Sperimentale Abruzzo e Molise (IZSAM) e muitos outros parceiros”, acrescentou Paolo Enrico Sertoli, “trabalhou ao lado do povo moçambicano para contribuir à segurança alimentar das famílias através do desenvolvimento rural integrado nas Províncias de Sofala e Gaza, melhorando o conhecimento agropecuário e nutricional dos beneficiários.”

O director da Aics Maputo recordou como os cooperativistas, graças às actividades de formação e assistência técnica, aumentaram a superfície para as culturas forrageiras do 100%, melhorando assim a criação dos bovinos e a produção de leite em termos de quantidade e qualidade; com o apoio do IZSAM, foi criada uma base de dados para facilitar a identificação, recolha e gestão da informação dos bovinos das 3 cooperativas envolvidas; 1200 agricultores de Sofala e Gaza beneficiaram de formações e acompanhamento para a aplicação de boas praticas agrícolas e estratégias de comercialização, com vista a melhorar a produtividade e os rendimentos dos camponeses; 5000 mulheres e 1000 professores de escolas primárias aumentaram os seus conhecimentos na área da alimentação e nutrição.

 

Lançamento do projecto AGRI-URB para apoiar a agricultura urbana nos assentamentos informais de Maputo

O evento de lançamento do projecto ‘AGRI-URB: Agricultura Urbana para melhorar a segurança alimentar nos assentamentos informais de Maputo’ realizou-se a 8 de Setembro de 2022.

O evento foi organizado pela Casa Agrária das Mahotas, que actualmente alberga um escritório da Câmara Municipal de Maputo e uma pequena biblioteca aberta à comunidade local.

Financiado pela Agência Italiana de Cooperação para o Desenvolvimento (AICS), o projecto AGRI-URB foi concebido com o objectivo de melhorar as condições de vida e a segurança alimentar dos cidadãos de Maputo, através, por um lado, do aumento das capacidades de produção e distribuição de alimentos frescos e, por outro lado, da promoção do desenvolvimento da economia local e do desenvolvimento sustentável no município de Maputo.

O Director da AICS Maputo Paolo Enrico Sertoli explicou: «O projecto AGRIURB, ao reforçar os laços de amizade e cooperação que ligam a Itália ao Município de Maputo, faz parte de um complexo de iniciativas que, com financiamento da Agência Italiana de Cooperação para o Desenvolvimento, contribuem para melhorar a qualidade de vida da população urbana da capital do país e, no próximo ano, será apoiado o sistema de Agricultura Urbana operado no município de Maputo, com o objectivo de reforçar a agricultura agro-ecológica urbana e a pecuária nas Zonas Verdes de Maputo (distritos municipais de KaMavota e KaMubukwana) e a agricultura urbana no distrito municipal de KaNhlamankulu».

O projecto será estruturado em três componentes: uma centrada na divulgação da agroecologia, para os distritos de KaMavota e KaMubukwana, uma centrada na agricultura urbana no distrito municipal de KaNlhamankulu, onde a AICS já está envolvida no apoio ao reordenamento do bairro Chamanculo C através do Programa REGENERA, e uma terceira dedicada à formação de pessoal técnico que presta assistência e aconselhamento aos produtores locais de agricultura, zootecnia e peixe.

O evento contou também com a presença de representantes da Câmara Municipal de Maputo e da Secretaria de Estado da Juventude e Emprego; representantes das ONGs responsáveis pela implementação do projecto, We World GVC, AVSI, Addesso, Abiodes; e membros e representantes das Associações e União dos Agricultores.

O Conselheiro para o Desenvolvimento Económico Local, Dr. Danúbio Júlio Lado, comentou: «O projecto ‘AGRI URB: Agricultura urbana para melhorar a segurança alimentar nos assentamentos informais de Maputo”, que temos a grande honra de lançar hoje, com o apoio financeiro da Agência Italiana de Cooperação para o Desenvolvimento, alinha-se com os esforços feitos pelo Conselho Municipal de Maputo, que no âmbito do PDM 2019-2023 (Plano de Desenvolvimento Municipal 2019-2023), está empenhado em fazer tudo para aumentar a produção e produtividade agrícola, pecuária e pesqueira, factores chave na promoção do desenvolvimento das economias locais».

 

 

O Presidente de Moçambique visita o pavilhão Itália da FACIM: grande interesse no modelo ISI, cooperação e negócios sustentáveis

O Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, visitou o pavilhão italiano na FACIM, a Feira Internacional de Maputo, esta manhã.

Nyusi foi recebido por Gianni Bardini, Paolo Gozzoli, Paolo Enrico Sertoli, respectivamente Embaixador da Itália em Maputo, Director ICE Maputo e Director AICS Maputo.

O Presidente Filipe Nyusi foi acompanhado pelo Primeiro Ministro de Portugal, António Costa, e pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros, João Cravinho.

A FACIM é uma feira anual multi-sectorial que reúne todos os sectores económicos a nível nacional e internacional.

O seu objectivo geral é mostrar o potencial de produção e exportação de Moçambique e promover oportunidades de negócio e investimento nos vários segmentos nacionais e estrangeiros.

A 57ª edição deste ano tem como foco a feira de emprego, empreendedorismo e inovação tecnológica.

A AICS trouxe à FACIM deste ano a nova abordagem da cooperação italiana: a par das iniciativas tradicionais de cooperação, a Agência envolveu o sector privado para fazer cooperação seguindo as linhas delineadas pela Lei 125/2014 que regula a Cooperação Internacional para o Desenvolvimento, iniciando uma acção real e uma utilização eficiente dos recursos, orientando e acompanhando empresas que se tornam verdadeiros parceiros de projectos institucionais, no que é definido como “Sistema Itália”.

“O modelo de negócio deve ser I S I, ou seja, Innovative Sustainable and Inclusive – explicou Paolo Enrico Sertoli, Director AICS Maputo – adequado para promover processos, produtos e tecnologias de serviços mais eficientes e economicamente vantajosos, sustentáveis, ou seja, economicamente capazes de gerar lucro e desenvolvimento ao longo do tempo, mas, ao mesmo tempo, capaz de melhorar as condições de vida das comunidades locais e proteger o ambiente, e inclusivo, ou seja, investimentos privados destinados a incluir pessoas marginalizadas (abaixo de um rendimento de 2,00 USD/dia) nos processos de desenvolvimento”.

“Neste desafio, as empresas são apoiadas pela AICS e pelo Sistema Itália, que trabalha com governos, instituições, cidadãos, organizações sem fins lucrativos, sociedade civil e organizações internacionais nos países parceiros”, sublinhou o Director da AICS Maputo, acrescentando que, “o envolvimento do sector privado com fins lucrativos representa o último passo na estratégia de reforço do sistema italiano de cooperação para o desenvolvimento, que vê o actor público a colaborar com outras instituições, com actores sem fins lucrativos e com os do sector privado com fins lucrativos. As empresas são chamadas a contribuir de forma concreta, investindo o seu próprio capital, conhecimento, criatividade e adaptabilidade, a fim de aceitarem o desafio do desenvolvimento sustentável nos países de intervenção”.

A AICS, através de convites à apresentação de propostas dedicados, concede subvenções para financiar/co-financiar iniciativas empresariais inovadoras e investimentos em países parceiros, em conformidade com a Agenda 2030 e as normas internacionais.

O foco dos “convites à apresentação de propostas” da AICS são as Pequenas e Médias Empresas (MPME) que têm os ODS como princípios orientadores da sua actividade empresarial, respeitando o pressuposto de que “a Itália reconhece e apoia a contribuição do sector privado… para os processos de desenvolvimento nos países parceiros… em conformidade com os princípios de transparência, competitividade e responsabilidade social”.

Em particular, no período 2017-2021, foram feitos três convites à apresentação de propostas, com 47 iniciativas seleccionadas e a criação de 14 start-ups, num total de 5,2 milhões de euros de contribuição total da AICS, 13,2 milhões de euros de valor total de iniciativas empresariais em 15 países parceiros de destino de investimentos, dos quais 75% em África.

Em Moçambique, foram seleccionadas três empresas na iniciativa Bando Profit.

Carbonsink (AID 11609) com o projecto para a “Produção e venda de fogões eficientes na área urbana de Maputo, no valor de 299.426,34 euros, iniciado em 2018.

O Newster (AID 11988) com o projecto de “Desenvolvimento do empreendedorismo local para a eliminação de resíduos sólidos hospitalares na Beira”, no valor de 310.000,00 euros, teve início em 2020.

Novamont (AID 12313) com o projecto para o “Reforço sustentável das cadeias de abastecimento de fruta, legumes, arroz e tabaco em Moçambique através da promoção da “mulch biodegradável” em Chimoio (Manica) e Maputo, no valor de 300.000 euros, iniciado em Agosto de 2021.